A análise feita neste trabalho acerca do conceito de desartificação da arte
(Entkunstung der Kunst), elaborado pelo filósofo alemão Theodor W. Adorno, põe
em relevo as condições da arte no seio da sociedade burguesa no panorama social
e histórico de desenvolvimento do capitalismo. A partir das evidências de
multiplicidade e contradição que se sobressaem nesse fenômeno da Entkunstung,
ou seja, a compreensão da ambivalência que esse conceito impele, sugere não
somente o comentário sobre a decadência da arte, mas uma potencialização da
linguagem artística enquanto crítica. A pergunta parte do seguinte ponto: a
sociedade burguesa libertou a arte de seus vínculos cultuais e a secularizou, trouxea
para a ordem do dia e, graças à reprodutibilidade técnica, deu acesso livre das
massas a ela. Como então, diante desse panorama, a arte pode ter entrado no
processo de crise do seu sentido? Desde o surgimento da fotografia e,
posteriormente, do cinema, a reprodutibilidade técnica colocou em cheque os
valores tradicionais do fazer artístico: houve o declínio da aura, a perda do valor de
autenticidade e o esmaecimento do aqui e agora. Diante dessas condições, a arte
passou por transformações profundas. Ora, como se sabe, a arte moderna foi a
eclosão do rompimento com a tradição artística e inaugurou uma expressividade
crítica e inovadora. Os movimentos vanguardistas surgem como a máxima desse
rompimento. Assim, perante essa quebra crítica dos velhos paradigmas, a arte
expande sua expressividade ao limite e indaga-se sobre seu próprio sentido e
identidade. Essa ebulição já pode ser pressentida desde Hegel, quando este falou
sobre o fim da arte. Tal tese hegeliana é trabalhada como diálogo com o conceito
adorniano de desartificação para mostrar uma visão mais ampla sobre os primeiros
indícios, mesmo que embrionários, dessa conjuntura. Assim, a constatação deste
trabalho, levando em consideração o método dialeticamente negativo do autor, é
que a desartificação da arte não significa só sua decadência e sufocamento social
por meio da Indústria Cultural e seus mecanismos de padronização, mas também
representa uma guinada da arte para uma linguagem que aceita essa condição não
como derrota, mas como salvação e manutenção de sua expressão crítica,
ratificando,por sua vez, a interface emancipatória da arte, ou simplesmente, a força
que a arte ainda possui para bater de frente com a sociedade que a sufocou.
Palavras-chave: Desartificação. Arte. Crise do sentido. Expressão crítica.