Um ensaio randomizado por agregados avaliou a eficácia de cortinas impregnadas com inseticida de longa liberação (Insecticide-Treated Courtains – ITCs) no controle do Aedes aegypti e na transmissão do vírus dengue (DENV) em Fortaleza, Brasil. Um total de 4.658 imóveis, distribuídos em vinte agregados, ou receberam a intervenção que consistia na instalação das ITCs e vedação de caixas d’água, ou atuaram como agregados controle. Três inquéritos entomológicos, realizados entre outubro de 2011 e setembro de 2012, mensuraram a infestação por formas imaturas do mosquito (larvas e pupas), expressa em quatro índices, que foram utilizados como medidas de desfecho: Índice Predial (IP), Índice por Recipiente (IR), Índice de Breteau (IB) e Índice de Pupas por Pessoa (PPP). A infestação foi medida antes da intervenção, durante estação chuvosa e depois das chuvas. Dois inquéritos soroepidemiológicos realizados com crianças e adolescentes entre cinco e quinze anos estimaram a prevalência (antes da intervenção) e a incidência (entre maio e junho de 2012) da infecção pelo DENV, utilizando teste de ELISA indireto para detecção de IgG anti-dengue. A incidência constituiu-se no principal desfecho para medir a transmissão do DENV. A potencial correlação entre a infestação e a transmissão do vírus foi investigada, separadamente, nos agregados de intervenção e controle. Nas áreas com cortinas, a média do IP manteve-se abaixo de 1%, na transição entre o inquérito entomológico pré-intervenção (0,56%) e o realizado na estação chuvosa (0,84%). Nestes agregados, os materiais descartáveis, encontrados em sua maioria fora dos domicílios (87% do total), concentraram 62% do total de larvas e pupas coletadas. No mesmo período, o IP nos agregados de controle mais do que triplicou (0,96% - 3,21%), seguindo a tendência observada no município de Fortaleza. Nas áreas sem cortinas, o tipo de recipiente mais produtivo foi pequenos depósitos para acumulo d’água (57% das larvas e pupas), localizados preferencialmente em ambiente intradomiciliar (94% do total). Os três índices larvários (IP, IR E IB) apresentaram aumento significativamente maior entre os dois primeiros levantamentos entomológicos nas áreas controle (Valor-p < 0,005). Apenas o PPP não teve variação expressiva, provavelmente devido ao pequeno número de pupas coletado. No último inquérito, os agregados de intervenção e controle voltaram a ter índices entomológicos que não diferiam em um cenário de baixa infestação. Com relação à transmissão do vírus, a prevalência da infecção pelo DENV (N=1046) foi de 43,2%, com discreta variação entre as áreas com (42,4%) e sem cortinas (44%). A incidência (N=447) foi maior nos agregados de intervenção (24,8%) do que nos agregados de controle (19,7%), embora também sem significância estatística (Valor-p= 0,1931). Uma forte correlação positiva entre infestação e incidência foi observada nas áreas de controle (R²=0,4389), ao contrário das áreas com cortinas (R²=0,0005), em que não houve associação entre a densidade vetorial domiciliar e o risco de infecção pelo DENV. As ITCs foram eficazes ao evitar o aumento sazonal da infestação pelo Aedes aegypti, como atestou a diferença entre os índices entomológicos e os tipos de recipiente infestados nas áreas de intervenção e controle. A intervenção também modificou a dinâmica de propagação do vírus. A incidência registrada nas crianças dos agregados com cortinas pode ter se mantido por um deslocamento do Local Provável de Infecção (LPI) para as escolas, considerando potencial redução da transmissão intradomiciliar. Recomenda-se a condução de ensaios futuros que, tanto possam corroborar a eficácia de materiais impregnados instalados dentro dos domicílios, quanto investigar a importância do ambiente escolar como espaço de transmissão do vírus.

Palavras-chave: Dengue. Controle Vetorial. Materiais impregnados com Inseticida. Ensaios Randomizados.

A cluster-randomized trial evaluated the efficacy of Insecticide-Treated Curtains (ITCs) in the control of Aedes aegypti and transmission of dengue virus (DENV) in Fortaleza, Brazil. A total of 4,658 properties located in twenty clusters received the intervention, which consisted of the installation of ITCs (not only in windows) and sealing of elevated water tanks, or act as control areas (no treatment). Three entomological surveys, conducted between October 2011 and September 2012, measured infestation by immature forms of the mosquito (larvae and pupae), expressed in four indices, which were used as outcome measures: House Index (HI), Container Index (CI), Breteau index (BI) and Pupae per Person Index (PPI). The entomological indicators were measured before the intervention, during the rainy season and when the dry season restarted. Two seroepidemiological surveys with children and adolescents (5-15 years of ages) estimated the prevalence (before intervention) and the incidence (from May to June 2012) of DENV infection, using an indirect ELISA test to detect anti-dengue IgG. The incidence was the main outcome measure for DENV transmission. The potential correlation between infestation and DENV transmission was investigated, separately, in the intervention and control clusters. In the areas where the curtains were installed, the average HI remained below 1%, in the transition between the pre-intervention entomological survey (0.56%) and the survey carried out in the rainy season (0.84%); in intervention clusters, 62% of the larvae and pupae were collected from discarded materials, normally located outdoors (87% of total). In the same period, infestation measured by HI of control clusters more than tripled (0.96% - 3.21%), following the trend observed in the city of Fortaleza, and 52% of the larvae and pupae were found in mobile containers, such as buckets and vats, located indoors (94% of total). This difference was statistically significant for the three larval indexes (HI, CI and BI), always higher in the control areas (p-value <0.005). Only PPI did not statistically change, due to the small number of pupae found in most of the clusters. In the last survey, at the beginning of the dry season, the intervention and control areas again had entomological indices that did not differ, in a scenario of low infestation. The prevalence of DENV infection (N = 1046) was 43.2%, with a slight variation between areas with (42.4%) and without curtains (44%). The incidence (N = 447) was higher in intervention clusters (24.8%) than in control clusters (19.7%), but also without statistical significance (p value = 0.1931). A strong positive correlation between infestation and incidence was observed in the control clusters (R² = 0.4389), unlike the treated clusters (R² = 0.0005), where there was no association between vector density inside the households and risk of DENV infection. ITCs have avoided the seasonal increase in Aedes aegypti infestation and may have reduced intradomicillary DENV transmission among children. Infestation of schools by Aedes aegypti may be playing an important role in the dengue and other arboviruses transmission and should be monitored regularly by vector control programs. It is recommended to conduct future studies that may both corroborate the efficacy of impregnated materials installed inside the home and investigate the importance of the school as a potential environment for dengue transmission.

Keywords: Dengue. Vector Control. Insecticide-Treated Materials (ITMs). Cluster-Randomized Trial