Introdução: A obesidade é uma epidemia global e seu controle é um dos maiores
desafios para equipes de saúde e pacientes. Dada a dificuldade de perda de peso e/ou
manutenção do peso perdido, cresce o número de publicações avaliando a efetividade de
estratégias apoiadas em evidência científica comparadas a estratégias ainda não
comprovadas. Dentre as últimas, destaca-se a dieta paleolítica, que na última década
vem sendo utilizada, paulatinamente, em estudos de intervenção com bons
delineamentos metodológicos ora mostrando benefícios, ora limitações. Objetivo:
Avaliar o efeito da utilização da dieta paleolítica sobre marcadores antropométricos de
indivíduos obesos. Metodologia: O estudo seguiu dois delineamentos: o primeiro foi
um piloto, retrospectivo, com análise de dados secundários representados por
prontuários eletrônicos de 25 pacientes. Foram coletados dados demográficos, número
de consultas, peso corporal e circunferência da cintura. O segundo delineamento
correspondeu a um ensaio clínico não controlado, envolvendo 93 pacientes
acompanhados por 60 dias, aonde foram coletados dados sociodemográficos, de saúde,
estilo de vida, dietéticos e antropométricos. Os dados antropométricos incluíram
aferição de peso, altura, circunferência da cintura e circunferência do quadril, para
cálculo do índice de massa corporal (IMC), índice de massa corporal invertido (IMCi),
relação cintura/estatura (RCE), body roundness index (BRI), índice de conicidade (IC)
e a body shape index (ABSI). Para a intervenção foi concebida uma dieta paleolítica
adaptada aos dias de hoje, mas preservando aspectos históricos da mesma, sendo a
prescrição para consumo ad libitum em consonância com a maioria dos estudos
publicados. A adesão à dieta foi investigada através do recordatório alimentar de 24
horas, realizado na 3ª, 7ª e 11ª semanas de acompanhamento, considerando-se adequada
uma adesão de 85/15, ou seja, 85% das refeições representadas pela dieta paleolítica
prescrita e 15% das refeições incluindo alimentos não prescritos. Resultados: A fase
piloto evidenciou a necessidade de se definir uma dieta de intervenção com satisfatório
respaldo científico, ainda que se tratando de uma terapia não comprovada. Detectou-se
que o referencial teórico adotado para elaboração da dieta paleolítica apresentava
discrepâncias em relação aos aspectos históricos da mesma. Ainda assim os achados
foram promissores, levando à significante perda ponderal e redução da circunferência da 6
cintura. A dieta paleolítica utilizada como intervenção incluiu apenas alimentos
presentes naquela época e excluiu cereais, laticínios, sal, açucares e doces e alimentos
industrializados em geral. Os pacientes submetidos a esta dieta apresentaram redução
espontânea significante da ingestão calórica média, de 1557,3 para 1003,1 kcal, aos 30
dias e para 979,6 kcal aos 60 dias. Houve perda ponderal significante e redução
significante de IMC, IMCi, RCE, BRI e IC. Não houve redução da circunferência do
quadril e do ABSI. A adesão foi inferior à preconizada, sendo 69,48/30,51 (30,48) aos
30 dias e 72,83/27,16 (25,77) aos 60 dias. Conclusão: O estudo evidenciou que é
possível adaptar a dieta paleolítica aos dias de hoje, e que esta estratégia terapêutica é
viável, mesmo que com adesão inferior à esperada, promovendo uma redução
espontânea e sustentada da ingestão calórica e redução ponderal com melhoria dos
marcadores antropométricos de gordura corporal e abdominal.
Palavras-chave: Dieta paleolítica. Obesidade. Peso. Antropometria. Adesão.