O trabalho da enfermagem no contexto de atuação nos Serviços de Atendimento
Especializado em HIV/Aids é tributário das recomendações ministeriais e do discurso
científico que enfatizam a importância da adesão ao tratamento antirretroviral. Porém, para
além da ingestão de medicamentos, acreditamos que a singularidade do paciente está
implicada na adesão a esse tratamento e comparece na clínica de enfermagem. Para a
compreensão dessa singularidade, faz-necessário ir em busca de outros campos de saber,
como a psicanálise que se interessa pelo saber do sujeito e o reconsidera como uma verdade
singular. Inserimos, assim, a tese de que a singularidade do sujeito está implicada na adesão
ao tratamento antirretroviral para HIV/Aids e comparece na clínica de enfermagem, porém as
tentativas de abordar essa singularidade apenas sob o enfoque do saber das ciências da saúde
confirmam a exclusão do sujeito no cenário assistencial. Assim, o objetivo desse estudo
consiste em analisar os discursos produzidos por pacientes sobre a adesão ao tratamento
antirretroviral para HIV/Aids, assim como identificar os discursos que apontam a
singularidade desses pacientes. Trata-se de uma pesquisa com a psicanálise, realizada com
nove pacientes, por meio de uma entrevista semiestruturada, durante os meses de outubro a
dezembro de 2018, em um Serviço de Atendimento Especializado em HIV/Aids. Os dados
foram analisados por meio da técnica de análise do discurso e, a pesquisa teve início após a
aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital São José de doenças
infecciosas, sob o parecer nº 2.911.868. A partir da análise dos discursos dos pacientes em
adesão, percebemos que os efeitos de sentidos parafrásticos sobre essa adesão perpassaram
pela compreensão de que aderir ao tratamento significa sobreviver, uma vez que os
medicamentos iriam garantir uma maior expectativa de vida. Porém, os discursos também
apontaram a adesão como sofrimento. Sofrimento esse relacionado às mudanças no corpo
devido aos efeitos colaterais, à adesão como uma forma de aceitar e revelar ao outro o seu
diagnóstico e o ao isolamento devido ao medo dessa revelação, além do confronto com a
morte. Dessa maneira, identificamos que esses discursos que apontaram sofrimento são
desconsiderados na clínica de enfermagem, o que reforça uma ideologia de base muito forte -
o discurso capitalista- que sustenta toda a prática significante dos discursos. Tomando como
questão central o sofrimento que comparece nos discursos analisados, ou seja, aquilo que está
fora do campo clínico da adesão, a enfermagem pode apostar na valorização da singularidade
do sujeito que pode destoar da lógica da racionalidade que rege os protocolos e as diretrizes
da adesão. Compreendemos, então, que o modo de conceber a atuação profissional da
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enfermagem pode ser reconsiderado a partir da possibilidade de pensar em um cuidado do
sujeito. Assim, pontuamos a psicanálise por saber que sua aposta se faz no sujeito e não no
medicamento, porém ressaltamos que não colocamos a psicanálise na pretensão de ser um
substituto para o tratamento medicamentoso, mas como um referencial que pode possibilitar o
lugar do outro ser o sujeito do discurso.
Palavras-chave: Cuidado de Enfermagem. Adesão ao Medicamento. Síndrome de
Imunodeficiência Adquirida. Psicanálise.