O uso do controle biológico com fungos entomopatogênicos é uma alternativa viável
para o controle do vetor da leishmaniose visceral (LV). Baseado no exposto, este estudo
objetivou uma investigação entomológica de flebotomíneos na cidade de Mossoró, Rio
Grande do Norte, e sua relação com as variáveis ambientais, bem como avaliar os efeitos dos
fungos Beauveria bassiana e Metharizium anisopliae var. acridum sobre os diferentes
estágios de Lu. longipalpis. Os flebotomíneos foram capturados mensalmente durante um ano,
no intra e peridomicílio das residências. A patogenicidade dos fungos sobre Lu. longipalpis,
foi avaliada em 5 concentrações de 1x104 a 1x108 conídios/mL, acompanhado do controle
negativo (Tween 80 0,05%) e controle positivo (cipermetrina 196 mg/mL). Os ovos nãoeclodidos,
larvas e adultos mortos expostos aos fungos foram semeadas para reisolamento
fúngico, análise dos parâmetros de crescimento e revalidação por PCR e seqüenciamento.
Foram capturados 7.347 flebotomíneos, 94% eram Lu. longipalpis. Somente a temperatura
influenciou negativamente a densidade populacional desses insetos. A infecção com B.
bassiana reduziu em 59% a eclosão de ovos, ao passo que, M. anisopliae var. acridum
reduziu 40%. A mortalidade larvar dos flebotomíneos pós-infecção fúngica foi
significativamente aumentada e a longevidade dos adultos foi menor do que o controle
negativo (p < 0,001) para ambos os fungos. O efeito dos fungos sobre a eclosão dos ovos
postos pelas fêmeas infectadas também foi significativo e inóculo-dependente (p < 0,05).
Quanto aos parâmetros de crescimento fúngico pós-infecção, para B. bassiana apenas a
conidiogênese e esporulação foram significativamente maiores do que o fungo antes da
infecção (p < 0,001). Enquanto que, para M. anisopliae var. acridum somente o crescimento
vegetativo não foi significativo quando comparado ao fungo antes da infecção (p > 0,05). A
revalidação da identificação dos fungos reisolados foi confirmada pelo sequenciamento após a
infecção de todas as fases do inseto para B. bassiana e somente pós-passagem em adultos para
M. anisopliae var. acridum. Conclui-se que, Lu. longipalpis é o flebotomíneo predominante
em Mossoró. Além disso, B. bassiana foi eficaz contra Lu. longipalpis e no que se refere a
fecundidade de fêmeas infectadas com M. anisopliae var. acridum, os resultados foram
satisfatórios, demonstrando que o vetor da LV é susceptível à infecção com fungos
entomopatogênicos. Consequentemente, o uso desses fungos nos programas de controle de
flebotomíneos poderá reduzir o uso de inseticidas químicos, resultando em benefícios para os
seres humanos e o ambiente.
Palavras-chave: Leishmaniose visceral. Lutzomyia longipalpis. Sazonalidade do vetor.
Controle biológico do vetor. Fungos entomopatogênicos.