A etnoveterinária estuda e valida o conhecimento popular utilizado na atenção e
promoção da saúde animal. A fitoterapia, um dos ramos dessa ciência, é cada vez mais
utilizada no tratamento de doenças de animais. Dentre as enfermidades que acometem
pequenos ruminantes, destacam-se as parasitoses por nematóides gastrintestinais como
importante causa de morbidade, mortalidade e redução na produtividade. Na medicina
veterinária convencional o tratamento dessas doenças utiliza anti-helmínticos sintéticos,
porém o fenômeno da resistência anti-helmíntica tem reduzido a eficácia desses
fármacos e estimulado a pesquisa por alternativas de tratamento, como exemplo a
fitoterapia. Em várias partes do mundo existem relatos etnoveterinários sobre plantas
com ação anti-helmíntica e muitos pesquisadores documentam e validam
cientificamente esses conhecimentos tradicionais. No Brasil, os estudos etnoveterinários
são escassos, especialmente na Região Amazônica. Sendo assim, o presente trabalho
teve dois objetivos: o primeiro foi documentar o conhecimento etnoveterinário sobre
plantas utilizadas por habitantes da Ilha do Marajó. O segundo foi selecionar e validar
cientificamente uma planta com elevada freqüência de relatos de uso como antihelmíntico.
Foram realizadas entrevistas com aplicação de questionários semiestruturados
que foram analisados através da distribuição de freqüência. O valor de uso
foi calculado para determinar as espécies mais importantes. Amostras das plantas
relatadas como medicinais foram coletadas e identificadas botanicamente. Da planta
selecionada para validação científica, foram preparados os extratos acetato (EA),
hexânico (EH) e etanólico (EE). Esses extratos foram utilizados no teste de eclosão de
ovos (TEO) e teste de desembainhamento larvar artificial (TDLA). Os resultados do
TEO e TDLA foram analisados utilizando os testes de Tukey’s e Kruskal-Wallis,
respectivamente. Cinqüenta e cinco plantas, distribuídas em 48 gêneros e 34 famílias,
foram indicadas para 21 diferentes usos medicinais em animais domésticos. A Jatropha
curcas L. foi uma das plantas com maior valor de uso (0.4) e selecionada para validação
da sua ação anti-helmíntica. O EE obtido de sementes de J. curcas demonstrou efeito
ovicida inibindo em 99,8% a eclosão de larvas na concentração de 50 mg mL-1. Esse
extrato também inibiu significativamente (p<0,01) o processo de desembainhamento
larvar artificial. Os EA e EH não apresentaram efeito ovicida e não inibiram o processo
de desembainhamento larvar. Na Ilha de Marajó são utilizadas plantas medicinais para
tratar doenças de animais. Dentre as plantas citadas como anti-helmínticos naturais
destacou-se a J. curcas e o conhecimento etnoveterinário foi validado utilizando testes
in vitro. Entretanto, ainda são necessários estudos toxicológicos e de eficácia in vivo
para que o uso anti-helmíntico da J. curcas possa ser repassado para população como
uma alternativa segura e eficaz para tratar seus animais.
Palavras chaves: Amazônia. Nematóides Gastrintestinais. Plantas Medicinais.
Etnobotânica. Jatropha curcas