O gênero Candida é composto por leveduras que vivem como comensais na microbiota de
homens e animais. Nos últimos anos, tem sido observado aumento considerável de relatos de
enfermidades causadas por estas leveduras acometendo variadas espécies animais. Há relatos
do surgimento de cepas resistentes a derivados azólicos, in vitro, mas ainda são poucos os
estudos que abordam o perfil de sensibilidade de Candida spp., isoladas de animais, bem
como o perfil genotípico destes isolados. Ademais, o gênero Malassezia também merece
destaque na Medicina veterinária, especialmente a M. pachydermatis. Com este estudo,
buscou-se conhecer a microbiota fúngica, por leveduras, em cães saudáveis, com ênfase nos
aspectos fenotípicos e genotípicos de Candida spp. Para tanto, foram analisadas 203 amostras
de boca, 110 de mucosa vaginal, 93 do prepúcio e 123 da região perianal de cães. As espécies
de levedura isoladas foram identificadas por suas características fenotípicas, de forma manual
e por sistema automatizado (VITEK 2), bem como pelo padrão genotípico (polimorfismo de
tamanho dos fragmentos amplificados) das regiões ITS1 e ITS2 do DNAr. Foram avaliadas,
também, cinco cepas de C. albicans e 3 C. tropicalis, oriundas da micoteca do CEMM. A
técnica de microdiluição em caldo (CLSI; M27-A2, 2002), com modificações, foi empregada
para avaliar a sensibilidade de Candida spp. e M. pachydermatis em relação ao cetoconazol
(CET), itraconazol (ITC), fluconazol (FLC), anfotericina B (ANB) e caspofungina (CAS). De
acordo com a identificação manual, três espécies de Candida foram encontradas: C.
parapsilosis (n=17), isolada em todos os sítios anatômicos; C. tropicalis (n=3), na região
perilabial, perianal e prepúcio; e C. albicans (n=2), presente somente na região perianal.
Foram isoladas 207 cepas de M. pachydermatis, das quais 34,8% foram da região perianal,
32,4 % da região perilabial, 22,7% da mucosa vaginal e 10,1% do prepúcio. Saccharomyces
cerevisiae (n=1) e Rhodotorula sp. (n=1) também foram encontradas. Os valores de
concentração inibitória mínima (CIM) do CET, ITC e FLC, contra as cepas de Candida spp.,
foram 0,03–16 \g/mL; 0,06 a >16 \g/mL; e 0,5–64 \g/mL, respectivamente. Todos os
isolados deste gênero foram sensíveis a CAS e ANB. As 20 cepas de M. pachydermatis
apresentaram CIM entre <0,03 – 0,25 \g/mL para CET e ITC, CIM = 8 \g/mL para FLC,
CIM > 64 \g/mL para CAS e CIM = 0,25 \g/mL para ANB. A amplificação pela reação em
cadeia da polimerase seguida de eletroforese em gel de agarose (PCR-AGE) permitiu a
identificação de seis espécies diferentes. Percentuais de 96,7 e 86,7 de concordância foram
encontrados entre PCR-AGE e VITEK versus método fenotípico manual, respectivamente.
Este estudo demonstrou a presença de Candida spp., M. pachydermatis, S. cerevisiae e
Rhodotorula sp. como parte da microbiota de cães saudáveis, e que, isolados de C. albicans e
alguns de C. tropicalis, oriundos destes animais, apresentam resistência, in vitro, aos
derivados azólicos testados. O PCR-AGE mostrou maior percentual de concordância com o
método manual, além de ser mais rápido e sensível do que os demais métodos analisados,
podendo o seu uso ser indicado para diagnóstico de rotina, de cepas de Candida spp. de
origem veterinária.
Palavras-chave: Leveduras. Candida. Sensibilidade. Cães. PCR.