O presente trabalho consiste em um estudo, à luz da ontologia marxiano-lukacsiana, do
caráter pragmático e mercantil que assume o conhecimento no atual contexto histórico de
crise estrutural do capital. Para o desenvolvimento do assunto, partimos da exposição de
alguns elementos postos por autores que defendem a existência de uma pretensa Sociedade do
Conhecimento – baseada no desenvolvimento das tecnologias da informação e da
comunicação –, cujo desdobramento imediato incide sobre a negação do trabalho, numa
tentativa de cancelá-lo e afirmar o conhecimento como categoria central do ser social.
Demonstramos que essa dita sociedade representa uma tese falsa, mas que é extremamente
necessária ao capital para a continuidade de sua lógica, posto que a negação do trabalho
desdobra-se nos seguintes problemas teórico-práticos: culmina na negação do valor, medido
pelo tempo de trabalho socialmente necessário para produzir determinada mercadoria; aponta
o conhecimento como medida do valor, ideia da qual são representantes Gorz (2005), Fausto
(1989) e Marcos Dantas (2006); alimenta o mercado do conhecimento, vendido como
qualquer mercadoria; responsabiliza cada indivíduo pelos dramas humanos agudizados no
contexto de crise estrutural. Nesse contexto, em que a existência da humanidade é posta em
xeque, a ciência e a tecnologia foram postas a serviço do complexo industrial-militar em
nome da produção de descartáveis, utilizando-se da estratégia da redução do tempo de vida
útil das mercadorias. Tal papel que assumem a ciência e a tecnologia é posto em posição
antagônica à satisfação das genuínas necessidades humanas, em nome da sustentabilidade do
próprio capital. Para a elaboração deste trabalho, lançamos mão do pensamento de autores
ligados à defesa da dita Sociedade do Conhecimento, como Bell (1973, 1976), Castells
(1999), Schaff (1991), Toffler e Toffler (1983, 1995, 2007) e Drucker (1977, 1999). Tais
autores serão confrontados com o que saiu da letra de Marx e de Mészáros sobre o papel da
ciência e da tecnologia no modo de produção capitalista, sobretudo no contexto histórico de
crise estrutural do capital. Marx (1964, 2003, 2004, 1994, 2011a, 2011b, 2011c) demonstrou
que o modo de produção capitalista exigiu o avanço da ciência e da tecnologia como
estratégia do capital para a extração da mais-valia relativa; Mészáros (2003, 2006a, 2006b,
2006c, 2009), por sua vez, que concorda com as denúncias feitas pelo pensador alemão há
quase dois séculos, acrescenta que em nosso tempo histórico, ciência e tecnologia assumem
um caráter militarizado para garantir a continuidade do próprio sistema, não importando,
evidentemente, o futuro da humanidade e do planeta.
Palavras-chave: Trabalho, Conhecimento, Crise Estrutural do Capital.