Os conhecimentos científicos na saúde evoluíram rapidamente nos últimos 50 anos. Tamanho
progresso trouxe como desvantagem o aumento crescente e desordenado dos custos com a saúde e
a prática de terapias cada vez mais intervencionistas e, por vezes, iatrogênicas. A Terapia Renal
Substitutiva ampliou seu espaço apresentando, ao longo dos últimos anos, uma demanda crescente
que implica em considerável consumo de recursos financeiros. As análises de custo-efetividade e
custo-utilidade se consolidaram como técnicas predominantes de avaliação econômica em saúde, a
partir de 1979. No Brasil, face à perspectiva de garantir uma melhora no estado de saúde da
população sob falência renal e diante da restrição orçamentária, há evidente lacuna em relação a
estudos de avaliação econômica (custo-efetividade/utilidade) sobre hemodiálise e transplante renal,
principalmente em relação a importantes ganhos em saúde/benefícios, vis-à-vis seu custo. Este
estudo teve como objetivo avaliar o custo utilidade em pacientes com insuficiência renal crônica
submetidos a transplante renal (TR) e hemodiálise (HD) na região metropolitana de Fortaleza-Ceará.
Trata-se de um estudo de avaliação econômica confrontando resultados clínicos e de custos. Os
dados clínicos foram coletados, entre outros, de um estudo observacional, de visão prospectiva,
quantitativo com aspectos qualitativos de avaliação econômica da saúde, seguindo os princípios
gerais do modelo denominado de análise de custo-utilidade. A pesquisa foi realizada nas unidades de
hemodiálise de Fortaleza e Região Metropolitana e nos serviços de transplante renal do Hospital
Geral de Fortaleza e do Hospital Universitário Walter Cantídio. Selecionou-se uma amostra de 50
pacientes em hemodiálise e 50 transplantados renais. Questionários estruturados foram utilizados
para entrevistar os pacientes obtendo-se informações sobre as características socioeconômicas e
demográficas, e indicadores de qualidade de vida, medidos pelo KDQOL e Eq5D. Na análise de
custo-utilidade, na perspectiva do SUS, compararam-se HD com TR. Um modelo de Markov foi
desenvolvido para a TRS com 10 anos de seguimento. Custos e benefícios foram descontados em
5%. As probabilidades de transição entre as modalidades foram obtidas através da literatura e os
custos foram obtidos através de tabelas do SIGTAB e CMED da base de dados nacional do
Departamento de Informática do SUS (DATASUS). A comparação entre as alternativas de tratamento
foi medida pela razão de custo-utilidade incremental (RCUI). Análises de sensibilidade unidirecional e
probabilística avaliaram as incertezas. Na análise de custo-utilidade, HD resultou em alternativa mais
custo-efetiva com transplante renal apresentando Razão de Custo Utilidade Incremental de R$
20.902,33. A utilidade total da hemodiálise e transplante renal foi, respectivamente, de 3,75 e 6,31
(AVAQ). A análise de sensibilidade pelo Diagrama de Tornado mostra que o custo dos medicamentos
do pós-transplante tem o maior impacto no resultado. Pacientes transplantados apresentam melhor
qualidade de vida a um custo mais elevado, muito embora esse custo se encaixe nos padrões
estabelecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e, por isso, deve ser incentivado.
Descritores: Estudos econômicos. Custo efetividade. Insuficiência renal. Diálise renal. Estudo vida
real.