Esta tese enfoca alguns contos de Tutaméia (Terceiras Estórias), de João Guimarães Rosa,
com o objetivo de observar as configurações da violência, que, segundo postulamos, são
recorrentes nesse livro. Para tanto, procedemos ao exame de parte da fortuna crítica do autor,
procurando buscar mais subsídios para abordar a construção da obra com quatro prefácios e as
considerações que Rosa faz sobre, por exemplo, paradoxos. Analisou-se ainda a contraposição
proposta pelo escritor entre “estória” e “História” e a possibilidade de compreender as
narrativas enquanto “contranarrativas”. A escolha recaiu em dezessete dos quarenta contos
que compõem a obra – “Antiperipléia”, “Arroio-das-Antas”, “A vela ao diabo”, “Azo de
almirante”, “Barra da Vaca”, “Como ataca a sucuri”, “Curtamão”, “Desenredo”, “Droenha”,
“Esses Lopes”, “Estória n°3”, “Estoriinha”, “Intruge-se”, “No prosseguir”, “Quadrinho de
estória”, “Sinhá Secada” e “- Uai, eu?” – e se justifica pela presença de quadros de violência
explícitos ou implícitos. Partimos da premissa de que, nessas narrativas selecionadas para
estudo, a violência funcione como tema estruturante do texto, tema a partir do qual se
organizam os demais assuntos que surgem nos contos. Além disso, observamos que em todas
as narrativas de Tutaméia a violência linguística está presente, com a proposição de um
“devir” da língua, uma língua que força e tensiona o pensamento a refletir sobre a própria
língua, a cultura e a sociedade. Destacamos a existência, ao lado dessa violência, de outras, as
violências sociais sedimentadas nos contos. Como resultado, constatamos que as violências
presentes nas narrativas revelam um paradoxo desse fenômeno esteticamente trabalhado nas
estórias: as violências libertam, mas, simultaneamente, aprisionam, pois também os algozes
são vítimas das consequências de atos violentos.
Palavras-chave: Guimarães Rosa; Tutaméia; Violência; Contranarrativa; Paradoxo.