Na tese, discute-se a música urbana em Fortaleza nos anos de 1920, por meio das
produções musicais para piano e da sociabilidade dos músicos que, ao longo do tempo,
se tornaram anônimos ou só se os encontra em fragmentos de memória, caracterizados
por uma inscrição afetiva no tempo (partitura, cartão de baile, recado amoroso na
imprensa, gravação musical). Questionam-se as valorações estéticas e sócio-históricas
que ignoraram boa parte desse repertório, vinculando-o a um lugar menor na história da
música brasileira, por meio, sobretudo, da categoria, um tanto indefinida, de “música
ligeira”, que permaneceu em nosso pensamento social como aquela que não se
adequava aos parâmetros de uma música considerada artística, e mesmo no que se
convencionou denominar música popular brasileira. Uma leitura mais acurada, sem
julgamentos apriorísticos de gosto, que leve em conta as apropriações culturais e a
inserção desses músicos nos espaços da cidade, além da análise dos documentos
musicais, revela como mais complexa as relações entre os campos “música ligeira”,
“música artística” e “música popular”, relativizando lugares cristalizados na história
sociocultural da música brasileira. Com isso, torna-se conhecível a variedade de práticas
musicais, incluindo a emergência do trabalho do músico na cidade, vinculado à
popularização do piano, tais como a música para o cinema mudo e a música de dança
para os salões e clubes.
PALAVRAS CHAVE: “Música ligeira”; Estética da Música; História da Música no
Ceará; Tópicas e Gestos e Profissão do Músico.