O período entre 1945 a 1960 representa um momento marcante na consolidação da então
chamada “Guerra Fria”. Foi neste período que se consolidaram as armas atômicas – e
posteriormente as termonucleares – como instrumentos a serem utilizados na “iminente”
Terceira Guerra Mundial: neste processo, surgiram os subprodutos da “Guerra Fria”, como a
“Era Atômica e dos Mísseis” e a “Corrida Espacial e Armamentista”, que reforçam e são
reforçados por ela. Por um lado, as armas nucleares e seus vetores eram desenvolvidos,
projetados, testados, aperfeiçoados e operacionalizados, o que significou aumento no poder
destrutivo de tais armas e na capacidade dos vetores de “entregá-las” no alvo. Por outro lado,
quanto mais isso era feito, mais claro ficava que as armas nucleares não poderiam ser
utilizadas sem que isso significasse a destruição de todo o planeta, de capitalistas, de
comunistas e todo o entremeio. A percepção desta capacidade não apenas diminuiu a
temperatura da “Guerra Fria” entre o sistema bipolar, mas também mostrou a relativa
inutilidade das armas nucleares. Assim, é o componente estratégico (técnico-militar) – as
armas nucleares – que manteve “fria” a “Guerra Fria”, e é ele que empresta sentido ao
conceito; e não o componente político-ideológico (capitalismo versus comunismo). O
objetivo desta tese de doutorado é partir do conceito revisitado de “Guerra Fria” e então
investigar o papel desempenhado por ele – e por seus subprodutos – no Brasil no período de
1945-60, e então entender como se processou a perda de importância estratégica do Brasil e
de toda a América Latina no pós-guerra. Objetiva-se analisar também a utilidade de um dos
mecanismos de internalização daquela perda – a “barganha atômica” – durante o pós-guerra
pelos nacionalistas, comunistas, “entreguistas”, dentre outros; bem como a postura destes
mesmos agentes históricos diante do renascimento estratégico brasileiro de fins da década de
1950, quando a ilha de Fernando de Noronha foi cedida para os Estados Unidos. A pesquisa
revelou que os minérios atômicos não pareciam um bom instrumento de barganha no processo
de reversão da perda estratégica. Revelou ainda que o melhor instrumento de barganha do
Brasil desde a Segunda Guerra Mundial – a ilha de Fernando de Noronha – foi desperdiçado e
/ ou subutilizado pelo governo brasileiro. A forte aderência ao componente ideológico criada
pela historiografia no conceito de “Guerra Fria” – e ainda hoje observada – faz com que não
se perceba que o elemento crucial dele são as armas atômicas e termonucleares (ou o “foco
irradiador da ‘Guerra Fria’”).
Palavras-chave:
Relações políticas Brasil-Estados Unidos - “Guerra Fria” - Armas atômicas e termonucleares.