Esta pesquisa busca compreender significações de pobreza e lugar(es) ensejadas pelas
margens urbanas de Fortaleza-Ce nestes anos 2000, sob o ponto de vista de moradores de
territórios estigmatizados da região do Grande Bom Jardim.Optei, assim, pela pesquisa
qualitativa, com a adoção da observação participante em complementaridade com as
entrevistas. Trata-se de um estudo sócio-antropológico, circunstanciado no Mela Mela e no
Marrocos, sobre os quais recaem estigmatizações sócio territoriais e de desqualificação social
de seus residentes em condição de pobreza. Nos esquemas classificatórios locais, as
estigmatizações associadas à pobreza, aos “pobres” e aos seus locais de moradia são ora
recusadas/dissimuladas, ora transferidas/reproduzidas pelos agentes, travando lutas de
classificação em distintos espaços e níveis. Esta tese buscou apreender as lutas simbólicas
cotidianas e intra territoriais, urdidas nos âmbitos individual/grupal pelos moradores em torno
das re-semantizações de pobreza/“ser pobre” e da construção social de lugar(es) reconhecidos
como expressões do“vixe do vixe” desta região. Em suas micro táticas de distinção social, os
narradores-residentes fabricaram (re)classificações, traduzidas em suas percepções de um
“nós ideal”, bem como (des)classificações hierarquizadas dos “pobres” locais, demarcatórias
de fronteiras simbólicas entre (des)iguais geograficamente próximos, tornados socialmente
distantes. Elaboraram seus conceitos nativos de pobreza, delineando duas principais versões:
uma individualizada e privatista, que distingue “pobreza-precisão” de“pobreza de espírito”;
e a outra, que associa pobreza ao local de moradia, configurado em espaço de abandono e
insegurança sócio-econômica e civil. Compreender as (re)significações da pobreza urbana em
tempos contemporâneos exigiu apreender seus enraizamentos nos lugares praticados pelos
narradores, importante parâmetro nas produções relacionais de seus esquemas classificatórios
intra territoriais e de classificações estigmatizantes projetadas sobre a região e seus residentes.
A outra dimensão destas lutas simbólicas apreendida nesta tese diz respeito aos sentidos de
lugar(es) em duas perspectivas: a de valorização do território vivido como lugar de memória,
reconhecimento e pertença sócio territorial, embora considerando-oabandonado pelo poder
público; e a de espacialidade(s) de medo e insegurança(s), sintonizada com práticas
topofóbicas de habitá-las e sociofóbicas de evitação social, enunciando tendências de um
viver acuado” nestas margens da cidade. Esta tese enseja uma interpretação crítica dos
conceitos nativos de “pobreza”/“pobre” e seus lugaresvividos, adensando reflexões
multivocais e polissêmicas sobre o viver nas margens das margens urbanas em tempos
contemporâneos.
Palavras-chave: Pobreza. Lugar. Territórios estigmatizados. Margens urbanas. Lutas de
classificação.