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Repositório Institucional - UECE
Título:
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE USUÁRIOS DE CRACK EM TRATAMENTO ESPECIALIZADO E DE SUAS REDES SOCIAIS EM FORTALEZA-CE

Autor(es):
SAMPAIO, ALEXANDRE MENEZES

Palavras Chaves:
Não informado

Ano de Publicação:
2016

Resumo:
RESUMO
Nas últimas décadas, com o aumento considerável do consumo de crack,
principalmente em populações marginalizadas e vulneráveis socialmente, o
fenômeno do uso dessa substância tem se destacado no cenário nacional,
percebido pelos serviços especializados e pela mídia leiga. Outros estudos
nacionais, apesar do rigor de sua metodologia, não obrigatoriamente representam
características dos habitantes do município de Fortaleza, ou mesmo da população
de usuários de crack, devido às próprias limitações desta metodologia em alcançar
esses sujeitos ocultos espacialmente. Este estudo buscou compreender, pela
análise de rede social, o perfil de usuários de crack em tratamento no município de
Fortaleza. Foi utilizada a triangulação métodos interpretativos, com uma tentativa de
intersecção de entre bases teóricas de diferentes correntes de pensamento como o
materialismo histórico, teoria do apego, teoria do aprendizado social, teoria
cognitiva, análise de redes e estatística. Esta metodologia avança ao compartilhar
uma visão holística e sistêmica da realidade e sua mutação permanente, nega a
independência dos atores e utiliza relações além de sujeito-sujeito, ganhando
complexidade, diversidade e adequabilidade. Os sujeitos pesquisados foram
compostos por homens e mulheres, com 16 anos completos ou mais, que residiam
em Fortaleza e que buscaram os serviços especializados em dependência química
deste município de janeiro a junho de 2015 para tratamento de uso de cocaína ou
crack. A rede social pessoal foi construída a partir das informações colhidas pelos
sujeitos da pesquisa. Foram investigados dados sociodemográficos dos egos, dos
alters, tipo de relação (amigo, familiar, etc), o grau de proximidade, a identificação de
quem havia usado álcool, cocaína ou crack, o suporte social pelo Questionário de
Suporte Social, SSQ6, o diagnóstioc de uso de substâncias pelo SCID-I, presença
do uso de outras substâncias, violência como vítima ou agressor, tipo de criação,
auto estima pela escala de Rosenberg, EER, e características estruturais das redes
como grau, densidade, hierarquia, grau de intermediação. Também foram utilizados
dados das entrevistas formativas e do diário de campo. Em consonância com os
dados da literatura, a maioria dos usuários de crack que procuram o sistema único
de saúde são homens, 86%; adultos jovens, média de idade 33,7 anos; solteiros,
37%, ou separado, 32%; com baixa escolaridade, 76% não completaram ensino
médio; baixa renda, 60% nos estratos D e E do Critério Brasil; e desempregados,
96%. Apresentam alta vulnerabilidade, com 20% em situação de rua. Apresentam
uma taxa extremamente elevada de uso de outras substâncias em comparação com
a população geral, com mais de 60% tendo usado maconha e cocaína no último mês
e mais de 80% usado álcool e cigarro. O uso regular destas substancias parece ser
estratégia para redução do consumo do uso de crack, com drogas mais ansiolíticas
e/ou de maiores tempo de ação. O preço da unidade pedra foi referido por 96% dos
entrevistados ser R$ 5,00. Este preço se mantém a pelo menos 8 anos,
evidenciando o fracasso das ações de redução de demanda. A curva de prevalência
do uso de crack parece estar em declínio, ou se deslocando para direita em relação
à idade, diferente do que ocorre com a cocaína. Em Fortaleza praticamente inexiste
grandes cenas públicas de consumo, divulgadas nas mídias como “cracolândia”. Os
locais de uso são em sua maioria a própria casa, 60%, ou um “barraco”, 54%.
Usuários são mais vítimas de agressão do que são agressores. Existe uma história
de violência frequente na infância, seja verbal, 42%, seja física, 60%, e uma baixa
chance de ser protagonista de violência no último ano, com 28% referindo pelo
menos um episódio de agressão, sendo outros usuários a maioria das vítimas.
Autoestima e suporte social são categorias que dividem determinantes semelhantes
e se estruturam em redes de sentido formadas na infância. A autoestima é menor
em mulheres, em quem tem baixa renda, em quem está em situação de rua, e
naqueles que não apresentam tipo de criação participativo. Tem correlação com o
suporte social, com a presença dos pais na rede social, com o grau e a densidade
da rede social. O uso de substâncias ocorre de forma escalonada e o crack é o
degrau após a cocaína. O uso crack não é o mesmo que uso pesado de cocaína.
São fenômenos sociais diversos e não podem ser agrupados em mesma análise. As
regressões multivariadas, comparando o desfecho uso de crack e o desfecho uso
diário, mostraram determinações incongruentes. O principal determinante da
migração ao uso de crack é a negligência/perda/abandono de suporte na infância.
Quando ajustado para vários determinantes que divergiam entre os grupos de
usuários de cocaína e crack em análises bivariadas, os usuários de crack possuem
maior idade e padrão de uso mais pesado, com maior freqüência de uso, maior
número de sintomas e maior uso de múltiplas substancias. A baixa escolaridade, o
tipo de criação negligente e o falecimento de pelo menos um dos pais, por suas
características de historicidade, são determinantes causais para a migração ao uso
de crack. Concluindo, a ausência dos pais e a escolaridade são fatores importantes
para a migração do uso de cocaína ao crack. A implementação de ações e políticas
que modifiquem estes fenômenos podem resultar em redução da prevalência do uso
desta droga.
Palavras-chave: Epidemiologia. Epidemiologia Crítica. Uso de crack. Análise de
rede social. Suporte social.

Abstract:
In recent decades, crack use increased considerably, particularly in marginalized and
socially vulnerable populations The phenomenon of the use of this substance has
been prominent on the national scene, perceived by specialized services and the
media. Other national studies, despite the rigor of their methodology, do not
necessarily represent characteristics of Fortaleza’s inhabitants, even crack users
population, due to the limitations of this approach in achieving these subjects
spatially hidden. This study aims to understand, by social network analysis, the
profile of crack users under treatment in Fortaleza city. Triangulation, as
interpretative methods, was used with an attempt of intersection between theoretical
bases of different schools of thought as historical materialism, attachment theory,
social learning theory, cognitive theory, network analysis and statistics. This
methodology advances to share a holistic and systemic view of reality and its everchanging,
denies the independence of actors and uses relationships as well as
subject-subject, gaining complexity, diversity and suitability. Study subjects were
composed of men and women, 16 years or older, residents of Fortaleza and who
sought addiction specialized services from January to June 2015 to treat cocaine or
crack abuse. The personal social network was built from the information gathered by
the research subjects. This study has investigated sociodemographic data of egos
and alters, the type of relationship (friend, family member, etc.), the degree of
proximity, who had used alcohol, cocaine or crack, social support by the Social
Support Questionnaire, SSQ6, the diagnostic of abuse of substances by the SCID-I,
the use of other substances, violence as victim or aggressor, type of parenting, self
esteem by Rosenberg scale, EER, and structural characteristics of networks as
grade, density, hierarchy, degree of intermediation. Data from formative interviews
and field diary were also used. In line with literature, most crack users who looked
for specialized service are men, 86%; young adults, average age 33.7 years; single,
37%, or separated, 32%; with low education, 76% have not completed high school;
low income, 60% in the strata D and E of Criterion Brazil; and unemployed, 96%.
They have high vulnerability, with 20% living on the street. Have an extremely high
rate of use of other substances compared to the general population, with over 60%
having used marijuana and cocaine in the last month and more than 80% used
alcohol and cigarettes. Regular use of these substances appears to be strategy to
reduce the use of crack consumption, more anxiolytic and / or longer periods of
action drugs. The price of the unit stone was reported by 96% of respondents being
R $ 5.00. This price remains at least eight years, demonstrating the failure of demand
reduction actions. The prevalence curve of crack cocaine use appears to be
declining, or moving to the right in relation to age, unlike what happens with cocaine.
In Fortaleza practically nonexistent large public scenes of consumption, reported in
the media as "cracolândia". The use of sites are mostly homeowners, 60%, or
"shack", 54%. Users are more victims of aggression than they are perpetrators.
There is a history of violence common in childhood, whether verbal, 42% is physical,
60%, and a low chance of being protagonist of violence in the last year, with 28%
referring at least one episode of aggression, and other users most victims. Selfesteem
and social support are categories that share similar determinants and are
structured in order to networks formed in childhood. Self-esteem is lower in women,
in those with low income, on who is in the streets, and those who do not have kind of
participatory creation. Correlates with social support, with the presence of parents in
the social network, with the extent and density of the social network. The use of
substances occurs in stages and the crack is the step after cocaine. Crack use is not
the same as heavy cocaine use. There are several social phenomena and can not be
grouped into the same analysis. Multivariate regressions, comparing the use of crack
outcome and the outcome everyday use, showed inconsistent determinations. The
main determinant of migration to crack use is the neglect / loss / support
abandonment in childhood. When adjusted for various determinants that differed
among cocaine users groups and crack in bivariate analyzes, crack users have a
higher age and pattern of heavier use, with higher frequency of use, increased
symptoms and greater use of multiple substances . The low level of education, type
of negligent creation and the death of at least one of the parents, their historicity
characteristics are causal determinants for migration to the use of crack. In
conclusion, the absence of parents and education are important factors for the
migration of cocaine to crack. The implementation of actions and policies to change
these phenomena may result in reducing the prevalence of use of this drug.
Keywords: Epidemiology. Critical Epidemiology. Crack use. Social network analysis.
Social support.

Tipo do Trabalho:
Tese

Referência:
SAMPAIO, ALEXANDRE MENEZES. PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE USUÁRIOS DE CRACK EM TRATAMENTO ESPECIALIZADO E DE SUAS REDES SOCIAIS EM FORTALEZA-CE. 2016. 180 f. Tese (Doutorado em 2016) - Universidade Estadual do Ceará, , 2016. Disponível em: Acesso em: 21 de maio de 2024

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