Avanços nas tecnologias de comunicação e informação (TIC) têm facilitado a
produção e disseminação de composições multimodais (CM) e desafiado o domínio
da língua como principal modo de comunicação. No âmbito educacional, esse
desafio questiona o que significa ser letrado no século XXI, ressaltando o papel da
educação em formar o leitor-olhante (SERAFINI, 2012), que atribui significados
integrando as informações verbais e visuais para consolidá-las em eventos
comunicativos. Com o alicerce da semiótica social (HODGE; KRESS, 1998, VAN
LEEUWEN, 2005), da multimodalidade (KRESS, 2010; JEWITT, 2009, 2013;
CALLOW, 2013; KRESS; VAN LEEUWEN, 2001, 2006), e de teorias que discutem
os multiletramentos (NEW LONDON GROUP, 1996; ANSTEY; BULL, 2006; COPE;
KALANTZIS, 2009), o letramento visual (OLIVEIRA, 2006; SERAFINI, 2014;
CALLOW, 2005, 2008), a habilidade comunicativa de ver (CALLOW, 2012, 2013;
WALSH, 2011), entre outras, a presente pesquisa teve como objetivo investigar a
integração da habilidade comunicativa de ver à habilidade de ler, apontando o
potencial da Gramática do Design Visual (GDV), de Kress e van Leeuwen ([1996],
2006) como ferramenta de análise de CM em meio impresso e observando a
construção de significados e a conscientização do letramento visual de leitores
dessas CM à medida em que são apresentados à Gramática, em um contexto de
ensino superior e formação de professores de língua inglesa (LI). A integração
daquelas habilidades foi realizada por meio de uma intervenção pedagógica no
formato de oficina de leitura, com a participação de oito alunos regularmente
matriculados na disciplina Leitura Intensiva, do Curso de Letras Inglês da
Universidade Federal do Piauí, ministrada no segundo semestre de 2015 (outubro
de 2015 a março de 2016). Em uma junção de teoria e prática, os participantes
foram apresentados à GDV e realizaram atividades de leitura de textos que
instanciam diferentes gêneros multimodais. Seis exemplos destes textos e as
respostas dos participantes a dois questionários de sondagem e a quatorze
atividades de leitura constituíram o corpus da presente pesquisa que, de natureza
interventiva, condizente com a metodologia da pesquisa-ação, adotou critérios
qualitativos para análise dos dados. A análise dos resultados indicou a apropriação
das ideias da GDV pelos participantes, manifestada no olhar desses para diferentes
modos e recursos semióticos na leitura das CM, e confirmaram o potencial da GDV
para propiciar uma leitura multimodal, configurando-a como uma metalinguagem
favorável ao desenvolvimento do letramento visual dos alunos, por meio da prática
integrada das habilidades de ler e ver, ao revelar o surgimento de um leitor mais
crítico e consciente de seu trabalho semiótico. A Tese foi concluída com uma
reflexão sobre as implicações pedagógicas dos resultados alcançados para o ensino
de LI, defendendo o ensino da GDV como metalinguagem que propicia o
desenvolvimento do letramento visual dos alunos, a partir da integração da
habilidade de ver às habilidades linguísticas, e ressaltando a necessidade de que os
currículos de LI sejam repensados para que possam incluir práticas pedagógicas
como as realizadas nessa intervenção. Além de sugestões para futuras pesquisas,
este trabalho aponta a contribuição para a formação do leitor-olhante, em todas as
esferas do ensino, particularmente do ensino superior, e a formação de professores.
Palavras-chave: Multimodalidade. Letramento Visual. Gramática do Design Visual.