Este estudo, que tem seus alicerces teóricos fundados na Teoria da Variação e da Mudança
Linguística (LABOV, 1994; 2008 [1972]; WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006 [1968]),
na Teoria da Polidez (BROWN; LEVINSON, 1987) e na Teoria do Poder e da Solidariedade
(BROWN; GILMAN, 1960), aborda as formas de tratamento pronominais tu, você, cê e o(a)
senhor(a) e as formas de tratamento nominais macho, rapaz, mulher, minha filha, cara e meu
amigo no falar popular de Fortaleza-CE. Com o objetivo de estudarmos os fatores linguísticos
e extralinguísticos que influenciam essas formas de tratamento, bem como avaliarmos se
temos algumas destas formas em processo de mudança, selecionamos 53 informantes do
banco de dados NORPOFOR (Norma Oral do Português Popular de Fortaleza) e analisamos
apenas os inquéritos do tipo D2 (Diálogo entre Dois Informantes). Nossos informantes foram
estratificados em função do gênero, da faixa etária (15 a 25 anos; 26 a 49 anos; a partir dos 50
anos) e da escolaridade (0 a 4 anos; 5 a 8 anos; 9 a 11 anos). Com o auxílio do GoldVarb X,
obtivemos os seguintes resultados: para as formas pronominais- tu com 47,2%, você com
46,5%, o senhor(a) com 4,3%, o cê com 2% e ocê com 0,1%; e para as formas nominais:
macho com 39%, seguido de mulher com 26,9% e rapaz com 17%, cara com 5,2%, minha
filha com 4,3%, amiga com 3,3%, meu amigo com 1,5%, menina com 1,3%, meu filho com
1,1%, meu irmão com 0,2% e menino somente com 0,1%. O fator de maior relevância, para
cada análise, foi o seguinte: a) em tu x você, a entonação (interrogativa) para o tu, com
indícios de uma mudança em curso; b) em tu x você +cê, as variáveis se comportaram como
na rodada tu x você; c) em cê x você, a escolaridade (a mais baixa) para o cê; d) em o(a)
senhor(a) x você, o tipo de relato (reportado) para o(a) senhor(a); e) em macho x rapaz, a
faixa etária (os jovens) para o macho, sinalizando uma mudança linguística; f) em cara x
macho, a escolaridade (os menos escolarizados) para cara; g) em mulher x minha filha, a
faixa etária (os jovens) para mulher; h) em rapaz x cara, a escolaridade (a menor) se mostrou
relevante para rapaz. As formas de tratamento nominais, assim como o tu e você, são mais
produzidas nas relações de solidariedade, mas o mesmo não acontece com o(a) senhor(a). As
formas rapaz e você seriam consideradas neutras. O uso do cê ainda é muito escasso, já o ocê
praticamente não ocorre. Observou-se também que o uso de cara, macho e rapaz não se refere
apenas a homens e que todas as formas em estudo não são estigmatizadas pela comunidade
em estudo.
PALAVRAS-CHAVE: Formas de tratamento. Teoria Variacionista. Teoria da Polidez. Teoria
do Poder e da Solidariedade. Falar de Fortaleza.