A cidade de Atenas, a partir do século VI a.C., viveu um período intenso de
efervescências culturais e momentos conflitantes. Nesse contexto, é na pólis
ateniense que as mulheres, especialmente as esposas legítimas, responsáveis por
gerarem os futuros cidadãos de Atenas, atuaram no espaço público por meio da
religiosidade, promovendo festivais e ritos com o objetivo de promover a continuidade
da cidade e a vida próspera para todos. Apesar disso, diversos discursos criaram em
torno dessas mulheres um modelo ideal de reclusão feminina, pertencente apenas ao
ambiente privado. É nesse panorama que se encontra Deméter, divindade agrária
associada aos ritos das mulheres e que possui em sua esfera de atuação ligações
com o feminino e com os papeis simbólicos e sociais destinados a elas: a fertilidade,
o casamento, a maternidade, o alimento etc. Através da História Cultural, percebendo
as construções simbólicas elaboradas a partir do plano real, buscamos analisar as
representações de Deméter como uma deusa associada às mulheres que através de
sua imagem pôde inserir as mulheres dentro da dinâmica da vida pública, tornandose,
por meio de seus relacionamentos com a deusa, legítimas portadoras do status de
cidadãs, por viverem e participarem ativamente da vida cívica e religiosa. Para tanto,
utilizaremos fontes literárias e iconográficas, narrativas míticas, tratados escritos,
peças teatrais e imagens da cerâmica ática, sempre em diálogo com o referencial
teórico de representações e discurso a fim de conseguir compreender como ocorreu
esse processo de inserção das mulheres dentro de Atenas por meio das
representações de Deméter.
Palavras-chave: Mulheres. Deméter. Religião. Representações. História Antiga.