O sistema penitenciário foi erguido sobre as bases de uma sociedade patriarcal e pensado sob a perspectiva masculina, negando visibilidade às mulheres que vivem em reclusão e negligenciando muitos de seus direitos mínimos. Diante disso, um dos eventos mais peculiares à vida feminina, a maternagem, é pouco compreendido no contexto do cárcere, sendo influenciado por fatores desde a representação da mulher como transgressora da lei - e, consequentemente, uma mãe má-, perpassando a falta de apoio social imposta pela detenção, até a estrutura inadequada dos estabelecimentos prisionais para atendê-la na condição de mãe. Diante disso, defende-se a tese de que, embora a maternagem no cárcere seja permeada por situações de estresse, a mulher detenta é capaz de adotar o papel materno de forma eficaz, por meio de um empoderamento individual. No entanto, a adoção deste papel é feita de forma solitária tendo em vista que, pelo aprisionamento, o apoio social advindo da família está fragmentado, e o do pai do bebê é quase inexistente neste contexto. Logo, objetivou-se analisar o apoio social na adoção do papel materno pela mulher detenta à luz da Teoria da Consecução do Papel Materno, buscando, especificamente: investigar a rede de apoio social de mães detentas, antes e após o encarceramento; descrever os tipos de relação entre elas e os componentes de suas redes de apoio; identificar, no ambiente prisional, os elementos de apoio social que influenciam na adoção do papel materno; e compreender como se configura o apoio social destas mulheres na assunção do papel materno. De abordagem qualitativa, o estudo foi realizado na penitenciária feminina na cidade de Aquiraz-CE, entre novembro de 2013 e setembro de 2014. Participaram do estudo 14 mães que viviam com os filhos no berçário, utilizando-se como instrumento de coleta de dados entrevista em profundidade, construção do genograma e ecomapa e observação simples e participante. Os dados foram analisados pela técnica de análise de conteúdo de Bardin, da qual emergiram três categorias para fins de discussão: “Antecipando a maternidade: da descoberta à aceitação da gravidez e figuras de apoio relacionadas”; “Indo ao encontro do bebê real: o apoio social no trabalho de parto, parto e puerpério e elementos envolvidos na maternagem reclusa”; “A maternagem dividida e a despedida do bebê real”, as quais foram discutidas à luz da Teoria da Adoção do Papel Materno de Ramona Mercer. Os resultados evidenciaram um perfil de mães jovens, com pelo menos dois filhos, pardas, solteiras, advindas de baixos estratos socioeconômicos, com baixa escolaridade e presas por tráfico de drogas. Quanto ao desempenho do papel materno no contexto prisional, confirmou-se a tese de que, mesmo que a maternagem no cárcere seja permeada por situações de estresse e que a mulher detenta seja socialmente vista como uma mãe má, ela é capaz de adotar o papel materno de forma eficaz, evidenciando autopercepção positiva e satisfação com o desempenho do mesmo. As fontes de apoio percebidas pelas mulheres nos diferentes momentos da maternagem foram apontadas na figura da mãe, do próprio filho, das colegas detentas, das agentes penitenciários e das igrejas, tendo sido caracterizadas como satisfatórias. Palavras-chave: Gravidez. Mães. Prisões. Relações mãe-filho. Enfermagem. Cuidados de enfermagem. 

The prison system was built on the foundations of a patriarchal society and thought from a male perspective, denying visibility to women living in seclusion and neglecting many of their minimum rights. Thus, one of the most peculiar events to female life, motherhood, is little understood in the prison context, being influenced by factors from the representation of women as a transgressor of the law - and thus as a bad mother-, passing the lack of social support imposed by detention until the inadequate structure of prisons to respect the mother's condition. In this context, the thesis supported is that although the child care in prison is permeated by stress situations, the inmate woman is capable to adopt the maternal role effectively through an individual empowerment. However, the adoption of this roles is solitary once the social support from family is fragmented by imprisonment, and the baby's father support is almost nonexistent in this context. Thus, the study aimed to analyze the adoption of the maternal role by inmate woman using the Theory of Maternal Role Attainment; the specific objectives included: to investigate the social support for mothers inmates before and after incarceration; describe the types of relationship between them and the components of their support networks; identify, in the prison environment, social support elements that influence the adoption of the maternal role; and understand how is designed the social support of these women in the assumption of the maternal role. This qualitative study was conducted in the women's prison in the city of Aquiraz-CE, from November 2013 to September 2014. The study included 14 mothers living with their children in the nursery and the nurse of the prison, using na depth interview as data collection instrument, construction of the genogram and ecomap and simple and participant observation. Data were analyzed by content analysis technique proposed by Bardin, from which emerged three categories for discussion: "Anticipating motherhood: from discovery to acceptance of pregnancy and related supporting figures"; "In line with the real baby: social support during labor, delivery and postpartum and elements involved in the reclusive motherhood"; "The split motherhood and the real baby goodbye", which were discussed in the light of the Ramona Mercer’s theory of Maternal Role Attainment. The results showed a profile of young mothers with at least two children, brown, single, resulting from lower socioeconomic strata, with low education and arrested for drug traffic. Regarding the performance of the maternal role in the prison context, the thesis was confirmed that even if the child care in prison is permeated by stressful situations and that the inmate woman is socially seen as a bad mother, she is able to adopt the role maternal effectively, showing positive self-perception and satisfaction with the performance of it. Sources of support perceived by women in different stages of motherhood were pointed in the mother figure, his own son, the inmates colleagues, the prison and churches agents have been characterized as satisfactory. Keywords: Pregnancy. Mothers. Prisons. Mother-child relations. Nursing. Nursing care.