Trabalhos anteriores demonstraram que a lectina isolada de sementes de
Lonchocarpus araripensis inibe a nocicepção periférica em camundongos por
mecanismos que envolvem mediadores inflamatórios e canais para Na+. O presente
trabalho investigou os mecanismos envolvidos na atividade antinociceptiva da lectina
de sementes de L. araripensis (LAL) utilizando o modelo de hipernocicepção induzida
por carragenana em camundongos. A lectina foi isolada e purificada por cromatografia
de afinidade em coluna de quitina, seguida de cromatografia de troca iônica (DEAESephacel).
Camundongos Swiss machos (25-30 g) foram manipulados de acordo com
os princípios éticos estabelecidos pelo CEUA/UECE (Nº 2127461/2015). A
hipernocicepção foi induzida pela administração de carrage
subcutânea intraplantar e mensurada pela reação do animal resultante da aplicação
de estímulo mecânico (filamentos rígidos - von Frey eletrônico) no centro da pata.
Foram realizadas 3 aplicações consecutivas do estímulo, em intervalos de 3 min e a
avaliação feita imediatamente antes (tempo zero), 1 h e 3 h após a injeção de
carragenana. A LAL (0,01 - 10 mg/Kg) foi administrada por via endovenosa (e.v.) 30
min antes da indução da hipernocicepção. A participação do domínio lectínico foi
avaliada pela incubação da lectina, por 1 h a 37 ºC, associada ao açúcar ligante Nacetil-
glicosamina (0,1 M) antes da administração e.v. nos animais. Os camundongos
foram tratados com inibidores das enzimas: óxido nítrico sintase (L-nitro arginina metil
éster - L-NAME), óxido nítrico sintase induzida (aminoguanidina), óxido nítrico sintase
neuronal (7-nitroindazol), guanilato ciclase (ODQ); de canais para K+ dependentes de
ATP (glibenclamida), canais para Ca2+ do tipo L (nifedipina), canais de Cldependentes
de Ca2+ (ácido niflúmico); e dos receptores canabinóides CB1 (AM251)
e CB2 (AM630) 30 min antes da LAL (10 mg/kg; e.v.). A expressão de nNOS foi
quantificada por imuno-histoquímica no gânglio da raiz dorsal e a sua expressão
gênica relativa por qRT-PCR no tecido da pata. Os resultados foram apresentados
como média ± E.P.M (n= 8 animais/grupo) e a análise estatística realizada pelos testes
ANOVA e Bonferroni. Os escores histológicos foram avaliados pelo teste de Kruskal-
Wallis e Dunns. Valores de p<0,05 foram considerados significativos. A
hipernocicepção induzida por carragenana (1 h: 3,5 ± 0,32 g) foi reduzida pelo
tratamento com a LAL nas doses de 0,1 (1 h: 49%; 3 h: 48%); 1 (1 h: 90%; 3 h: 68%)
e 10 mg/kg (1 h: 100%; 3 h: 94%). O efeito inibitório da LAL foi revertido pela incubação
8
da lectina com N-acetil-glicosamina (1 h: 5,5 ± 0,5 g; 3 h: 5,75 ± 0,75 g), pela
administração prévia de L-NAME (1 h: 6,87 ± 0,58 g; 3 h: 5,62 ± 0,41 g), 7-Nitroindazol
(1 h: 5,01±0,79 g; 3 h: 6,05±0,66 g), ODQ (1 h: 4,62 ± 0,37 g; 3 h: 5,32 ± 0,31 g),
glibenclamida (1 h: 4,50 ± 0,56 g; 3 h:5,75 ± 0,35 g), nifedipina (1 h: 5,67 ± 0,56 g; 3
h: 5,37 ± 0,65 g), ácido niflúmico (1 h: 6,3 ± 0,35 g; 3 h: 6,1 ± 0,37 g), AM251 (1 h:
4,75 ± 0,41 g; 3 h: 4,5 ± 0,53 g) e AM630 (1 h: 5,67 ± 0,56 g; 3 h: 5 ± 0,68 g), mas não
por aminoguanidina. Além disso, a lectina aumentou a imunoexpressão e a expressão
gênica de nNOS. A lectina de Lonchocarpus araripensis inibe a nocicepção em
camundongos via ativação das vias de sinalização L-arginina/NO/GMPc/K+ATP e
sistema endocanabinóide.
Palavras-chave: Lonchocarpus araripensis. Dalbergieae. Hipernocicepção. Larginina/
NO/GMPc/K+ATP. Receptores endocanabinóides.