O trabalho de pesquisa VEM JOGAR MAIS EU, MANO MEU: CARTOGRAFANDO A
CAPOEIRA NA CIDADE DE CAMOCIM COMO JOGO DE LINGUAGEM E RESISTÊNCIA
NEGRA insere-se no amplo escopo de estudos em Pragmática Cultural, filiando-se de forma
mais ampla aos estudos em Linguística Aplicada, agregando a Pragmática Cultural às
noções de Linguista Aplicada indisciplinar, mestiça e transgressora. A pesquisa teve como
objetivo analisar o jogo de linguagem capoeira, mais notadamente, a capoeira praticada pelo
Grupo de Capoeira Regional Mestre Ávila na cidade de Camocim-CE, a partir da vivência
das regras inscritas no jogo, entendendo essa prática cultural como jogo de linguagem e
prática de tradução intercultural. Para a efetivação da pesquisa, utilizamos, em linhas gerais,
dos seguintes aportes teóricos: as ponderações da Filosofia da Linguagem Ordinária (FLO),
sobretudo nas concepções de jogos de linguagem e as regras culturais destes jogos
propostas por Wittgenstein, somadas às ponderações de atos de falas e suas dimensões
locucionárias, ilocucionárias, perlocucionárias propostas por Austin; as discussões sobre
epistemologias norte e sul; as problematizações do lugar híbrido entre sujeito pesquisador e
também sujeito do universo pesquisado, no nosso caso, pesquisador e capoeirista; o debate
em torno da dimensão de comprometimento político como negro intelectual. Como método
de análise, baseamo-nos nos princípios da cartografia intervencionista em que nos
propusemos a acompanhar processos, seguindo pistas cartográficas. Como resultado da
análise, dentre outro pontos, ponderamos que as regras “mandinga”, “corpo”, “axé”, “roda” e
“mestre” parecem ser parte constituintes primordiais desse jogo, mas não dão conta do
entendimento de todo o jogo de capoeira, o jogo é sempre aberto e contingencial, motivado
pelo uso histórico e social; vimos também que as regras devem ser problematizadas no
próprio jogar. Surgiu também como apontamento analítico que realmente as falas dos
capoeiras comportam-se como atos de fala e as dimensões já elencadas destes atos
repercutem na formação desse jogo. Percebemos também que a capoeira insere-se como
uma prática da ordem subalterna e resistência da cultura negra na cidade. Quanto aos
aspectos da tradução intercultural, propusemos que a capoeira trata-se de uma atividade da
ordem intercultural uma vez que emerge do entrelaçamento de diferentes substratos
culturais formadores, procurando suplantar a ideia de que haja substratos culturais negro,
indígena e branco como origens míticas e estanques, apostando muito mais nesses
substratos como construções políticas, por vezes tangenciais, híbridas e intercambiantes,
trata-se de um processo tradutório infinito que, ao longo do tempo, revitaliza traços já
consolidados em novas urgências políticas.
Palavras-chave: Cartografia. Jogos de linguagem. Negritude. Capoeira.