RESUMO
No Brasil, a Atenção Primária à Saúde constitui-se como a estratégia estruturante
dos sistemas municipais de saúde, na busca da mudança do paradigma assistencial
e da reorientação do modelo de cuidado em saúde, sendo considerada a porta de
entrada preferencial do Sistema Único de Saúde. Desse modo, a Atenção Primária
ocupa posição estratégica no SUS para garantir a universalidade do acesso e a
cobertura integral. Cabe à atenção primária: efetivação da integralidade, integração
de ações programáticas e demanda espontânea, articulação das ações de
promoção à saúde, prevenção de agravos, vigilância à saúde, tratamento e
reabilitação, trabalho de forma interdisciplinar e em equipe, e coordenação do
cuidado na rede de serviços. O cuidado ofertado na Atenção Primária à Saúde está
pautado na Política Nacional de Humanização e concebe o acolhimento e o vínculo
enquanto dimensões que operam para romper com os modelos de atenção e gestão
fundados na racionalidade biomédica, fragmentados e hierarquizados. Nessa
perspectiva o acolhimento e vínculo são compreendidos como tecnologias leves de
cuidado, articulando-se e complementando-se na implementação de práticas
integrais de cuidado. A partir dos anos 2000, surgiram as primeiras pesquisas para
avaliar a Atenção Primária à Saúde, considerando a multiplicidade dos aspectos
relacionados a ela. As avaliações, sempre empreendidas por centros acadêmicos e
financiadas pelo Ministério da Saúde, cujo foco centrava-se no monitoramento da
estrutura, nos processos e resultados por meio de dados obtidos nos sistemas de
informação em saúde. A crítica a respeito de tais pesquisas é que se inseriam no
campo das avaliações normativas, excluindo os profissionais de todas as etapas do
processo. Nesse sentido, a Educação Permanente em Saúde se consolidou como
mediador na construção de espaços de problematização coletiva junto às práticas de
formação, potencializando a produção de um novo pensar e fazer no cotidiano dos
serviços de saúde. O estudo trata-se, pois, de uma investigação que objetiva: avaliar as
contribuições das pesquisas realizadas na Atenção Primária á Saúde para as
práticas de acolhimento e vínculo no SUS; analisar as pesquisas local e nacional
realizadas na Atenção Primária à Saúde referente ao acolhimento e vínculo;
descrever como as práticas de produção do cuidado relacionadas ao acolhimento e
vínculos são produzidas no território da Atenção Primária; discutir com os diversos
atores da Atenção Primária à Saúde as contribuições e desafios das pesquisas para
as suas práticas de acolhimento e vínculo produzidas no cotidiano dos serviços.
Toma-se por eixo teórico a importância de configurar e articular a Atenção Primária à
Saúde, com marcos teóricos importantes nas transformações de olhares e práticas,
utilizando a concepção reflexiva crítica para compreender e analisar as narrativas e
os documentos mapeados. Quanto à trajetória metodológica, a pesquisa teve como
cenários a Coordenadoria de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde, as seis
Secretárias Executivas Regionais do município de Fortaleza e a Unidade de Atenção
Primária à Saúde Roberto Bruno, situada na Secretaria Executiva Regional IV. Fizeram
parte do estudo 34 participantes, entre eles: 08 gestores e técnicos da Educação
Permanente em Saúde, 12 coordenadores de Unidades de Atenção Primária à Saúde e 14
profissionais de saúde. Para a coleta das informações, foram utilizados: a entrevista
semiestruturada, a observação sistemática e o grupo focal. Além do mapeamento das
pesquisas submetidas ao Comitê de Ética em Pesquisa da Coordenadoria de Gestão do
Trabalho e Educação em Saúde e levantamento das pesquisas relacionadas ao tema. O
estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da
UECE, através de parecer consubstanciado do CEP da Plataforma Brasil. A análise das
informações obtidas se delineou na análise reflexiva crítica de Minayo. Do material empírico
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analisado, resultaram três categorias temáticas e ressaltadas no texto: a produção do
conhecimento sobre as pesquisas de acolhimento e vínculo na APS; o acolhimento no
direcionamento do fluxo de usuários na unidade e reorganização dos processos de trabalho;
o acolhimento como atitude humanizada: conversa, escuta, necessidade e
corresponsabilização, e por último, contribuições e desafios da utilização das pesquisas no
cotidiano dos serviços: o olhar de coordenadores e técnicos da EPS. Das categorias
analíticas emergiram reflexões que as pesquisas se constituem fontes de potencia para as
mudanças nas práticas cotidianas dos serviços da APS. Entretanto por falta de
empoderamento dos diversos atores sociais envolvidos, os resultados das pesquisas,
permanecem circunscritos no interior do campo acadêmico, sem efetivamente promover
mudanças, sejam individuais e coletivas ou ainda sociais, educacionais ou institucionais.
Nesse contexto, percebe-se a necessidade de uma melhoria na articulação entre os
técnicos da EPS e profissionais da APS com as instituições acadêmicas, no sentido de
envolver os diversos atores sociais das pesquisas e desse modo utilizar os resultados
dessas no cotidiano dos serviços, promovendo reflexões e transformações na busca de
atender os princípios da Reforma Sanitária propostos no SUS.
Palavras-chave: Pesquisas de Avaliação; Atenção Primária à Saúde; Acolhimento e Vínculo;
Educação Permanente em Saúde.