RESUMO
O dengue é considerado uma virose de difícil controle. Perpassou os anos,
transgrediu os momentos em que houve sua completa erradicação e, hoje, aliada
aos “novos tempos” que combinam industrialização, modernização e urbanização,
perpetua-se no ambiente, convivendo de modo silencioso com o ser humano. O
dengue exige um enfoque sistêmico para seu controle, pois, porta em sua dinâmica
de transmissão elementos condicionantes biológicos, comportamentais, ecológicos,
políticos e econômicos, caracterizando-se como um problema complexo. Um
exemplo de abordagem diferenciada é a Ecossaúde, que se concentra na análise
holística do problema e desenvolvimento local, abordando o contexto social e
ecológico em que vivem os humanos, considerando a importância da gestão
ambiental, fatores econômicos e necessidades da comunidade. A mulher tem
importante papel no controle do dengue, pois é ela a maior responsável pelos
cuidados com a casa e com a saúde da família, mantendo práticas com potenciais
criadouros do dengue. O mosquito transmissor, por sua vez, utiliza depósitos que
estejam expostos e armazenem água tanto no espaço público como privado. Desse
modo, o estudo buscou analisar práticas e percepções de mulheres acerca dos
potencias criadouros do dengue nos espaços público e privado através de uma
abordagem de Ecossaúde. Trata-se de uma pesquisa de “tipo” etnográfico, na qual
participaram dez mulheres com faixa etária entre 24 e 65 anos, selecionadas por
intermédio do mobilizador social da região. Para alcançar as informações
procederam-se 20 visitas ao Pequeno Mondubim no período de janeiro a agosto de
2014. Quanto aos meios de alcance dos elementos necessários ao estudo, utilizouse
a observação participante e a entrevista semiestruturada. As informações
provenientes das observações e entrevistas foram analisadas durante todo o
decorrer da pesquisa por meio da leitura e releitura do material e depois, estes foram
distribuídos em temas passando a compor todo o elemento narrativo que compõe o
trabalho. Verificou-se que nas origens das ruas em estudo houve um processo de
invasão que culminou com construções irregulares, em ambiente inadequado, ou
seja, nas proximidades de um rio que se transformou ao longo dos anos em um
esgoto repleto de potenciais criadouros do dengue, influenciando, ainda hoje, na
saúde daquela população. O local não distribui de modo equitativo os serviços de
drenagem, serviço de esgoto e pavimentação; a distribuição de água ocorre, mas o
receio de que falte ainda contribui para que as mulheres armazenem água em
depósitos; e a coleta de lixo, embora atenda a comunidade três vezes na semana,
atrasa o momento de recolher o lixo das calçadas e parece insuficiente para a
quantidade de lixo produzido, contribuindo para a prática inadequada de alguns
moradores que o depositam fora do horário, contribuindo para a sujeira do espaço
público. Assim, entende-se que o controle dos vetores do dengue, baseado na
eliminação de criadouros nesses espaços, só será alcançado quando condutas
políticas e sociais se tornem efetivas e equitativas.
Palavras-chave: Dengue. Abordagem Ecossaúde. Gênero e Saúde.