RESUMO
O estudo analisa o uso de drogas, notadamente o crack estabelecendo relação entre
as categorias gênero, pobreza e violência na busca de identificar as marcas
deixadas pelo uso do crack nas vivências das mulheres entrevistadas. A análise
parte do entendimento de que o uso de drogas é algo que faz parte da cultura
humana e sua abordagem precisa ser realizada levando-se em conta fatores sociais
e não somente biomédicos e morais. As interlocutoras da pesquisa foram cinco
mulheres usuárias ou ex-usuárias de crack moradoras da Comunidade Jardim
Fluminense em Fortaleza. As entrevistas ocorreram nas residências das mulheres,
sendo posteriormente submetidas a análise de conteúdo, na modalidade análise
temática de Minayo. Os resultados evidenciaram a forte “demonização” do crack
sendo ele apontado como responsável por todas as dificuldades vivenciadas pelas
mulheres. Os resultados apontam ainda que as mulheres vivenciam sentimentos
ambíguos em relação à maternidade em um conflito entre o socialmente esperado, e
suas escolhas de vida. Expressam também o sentimento de vergonha pelo uso do
crack e nesse sentido, buscam efetivar o uso da droga em ambientes privados,
resguardadas do “olhar do outro”. A análise das entrevistas permeada pelas
observações construídas em diário de campo permitiu compreender que o uso do
crack afeta de forma diferenciada a vivência das mulheres no sentido de que para
elas, o meio social impõe um comportamento moral, um padrão de conduta a ser
seguido e, ao fugirem desse padrão as mulheres aqui estudadas sofrem de forma
ainda mais intensa o preconceito, o estigma e a vergonha por não conseguirem ser
como o esperado socialmente.
Palavras-chave: Droga. Gênero. Pobreza. Violência.