RESUMO
Introdução: A mamografia, radiografia da mama, permite a detecção precoce do
câncer, por ser capaz de mostrar lesões em fase inicial. Muitos estudos já
mostraram associação entre nutrição e prevenção do aparecimento ou da recidiva
do câncer de mama, porém a relação com achados mamográficos ainda não foi
estudada. A presença de inflamação tem sido apontada como fator de risco para
várias doenças crônicas, o câncer entre elas. Consequentemente, caracterizar a
dieta do indivíduo de acordo com suas propriedades inflamatórias permite investigar
os laços entre dieta, inflamação e doença crônica. Objetivo: Analisar a inter-relação
entre nutrição, achados mamográficos e inflamação em mulheres usuárias do
Sistema Único de Saúde (SUS). Metodologia: Pesquisa transversal, de abordagem
quantitativa e analítica, desenvolvida de Abril de 2015 a Fevereiro de 2017, em uma
Unidade de Saúde, o GEEON (Grupo de Educação e Estudos Oncológicos), que
realiza mamografias em pacientes do SUS. A amostra foi composta de 649
mulheres. A coleta de dados abrangeu dados de identificação, demográficos,
socioeconômicos, clínicos, de estilo de vida, condições de saúde e medicação,
antropométricos e de composição corporal, e dietéticos. Foram compiladas
informações constantes nos laudos de mamografia e realizado exame de sangue
(hemograma e proteína C reativa - PCR). Os dados dietéticos foram obtidos em dois
recordatórios alimentares de 24 horas. Tais dados foram digitados na Plataforma
Brasil Nutri e lançados no Statistical Analysis System (SAS). As mulheres foram
distribuídas em dois grupos: com achados mamográficos alterados e com achados
mamográficos não alterados. Os dados de ambos os grupos foram comparados. O
consumo alimentar foi comparado com as preconizações dietéticas do World Cancer
Research Fund/American Institute for Cancer Research - WCRF/AICR (2007) e foi
calculado o Índice Inflamatório da Dieta (IID). Como marcadores bioquímicos da
inflamação foram analisados PCR, leucócitos, neutrófilos, linfócitos e a razão
neutrófilo/linfócito - RNL. A antropometria incluiu aferição de peso, altura,
circunferência da cintura e circunferência do quadril, para cálculo do índice de
massa corporal (IMC), índice de massa corporal invertido (IMCi), relação cinturaestatura (RCE), A Body Shape Index (ABSI) e Body Roundness Index (BRI). A
composição corporal foi determinada quanto ao percentual de gordura corporal por
meio de ultrassom. Utilizou-se os programas SPSS versão 20.0 e Stata versão 11.0
para a análise estatística. Foram realizados os testes Qui-quadrado, t de Student ou
Mann-Whitney, regressão linear e regressão logística, com ajuste para variáveis
confundidoras, adotando-se p < 0,05 como significante. Resultado: Em relação às
recomendações do WCRF/AICR, o consumo de carne vermelha foi maior entre as
mulheres com achados mamográficos alterados (p = 0,001). Em relação aos
marcadores inflamatórios, a RNL foi associada ao IID (p = 0,010). Mulheres com
alterações mamográficas tinham maior percentual de gordura corporal (p = 0,037).
Conclusão: Algumas inter-relações entre nutrição, achados mamográficos e
inflamação foram comprovadas no presente estudo, embora seja demandado
aprofundamento do tema em estudos subsequentes, na busca de outras
associações. Os presentes achados são relevantes para a Saúde Coletiva e para a
comunidade, direcionando condutas educativas e delineamento de pesquisas
futuras.
Palavras-chave: Mamografia. Câncer de mama. Inflamação. Dieta. Índice
inflamatório dietético. Composição corporal.