RESUMO
Ao Sistema Único de Saúde (SUS) cabe ordenar a formação dos recursos
humanos em saúde e estabelecer políticas de articulação entre o trabalho e a
educação em saúde, e isso implica contribuir para a formação do perfil
profissional requerido para melhor atender às necessidades de saúde da
população brasileira. Neste sentido, algumas iniciativas têm buscado
impulsionar mudanças no ensino na área da saúde, como as Diretrizes
Curriculares Nacionais (DCN) e o Programa Nacional de Reorientação da
Formação Profissional em Saúde (PRÓ-SAÚDE). A formação de profissionais
mais bem preparados para atuar no SUS, entretanto, ainda é um
desafio. Nesse contexto, este trabalho objetivou avaliar a formação oferecida
pelo curso de Medicina de uma universidade pública de Fortaleza-CE,
enfatizando a preparação para a atuação na Atenção Primária em
Saúde (APS). O estudo foi feito por meio de abordagem qualitativa, com
análise documental das DCN para o Curso de Medicina, do Projeto Político
Pedagógico (PPP), dos planos de ensino do curso e de dados obtidos por meio
de entrevistas semi-estruturadas, realizadas com 29 estudantes dos
internatos II e IV, correspondentes ao período final da graduação. A análise
teve como parâmetros as DCN do curso de medicina, a política de reorientação
da formação dos profissionais de saúde e a proposta do quadrilátero da saúde,
que envolve as dimensões ensino, gestão, atenção e controle social.
Observou-se que o PPP do curso está em conformidade com as DCN, que
orientam a formação generalista e humanista, porém deixa a desejar na
formação crítica e reflexiva, pelo predominante uso de metodologias de ensino
tradicionais. As disciplinas que abordam a APS têm uma carga horária de
menos de 20% do total. Observou-se pouca afinidade dos alunos com tais
disciplinas, bem como nas atividades complementares relacionadas à APS, o
que certamente concorre para a desvalorização da atuação neste nível de
atenção. Quanto aos cenários de práticas, propostos no Pró-Saúde, o curso
oferece vivências em todos os níveis de atenção; em relação à orientação
pedagógica, predominam as metodologias tradicionais. Na perspectiva da
formação relacionada aos aspectos de gestão e controle social no SUS, o
curso apresenta fragilidades. Conclui-se que o curso analisado segue, de
maneira geral, as DCN, mas que a concretização do processo formativo sofre
diversas influências e tem vários fatores que dificultam a formação de
profissionais comprometidos com a consolidação do SUS, os quais, ao longo
do processo formativo, constroem um pré-julgamento negativo em relação à
atuação na APS.
Palavras-chave: Educação Médica; Atenção Primária à Saúde; Sistema Único
de Saúde