RESUMO
A alta mortalidade por câncer no Brasil e no mundo é um problema de saúde
pública. As diferentes taxas de mortalidade por câncer no Brasil podem ser
explicadas parcialmente pelos hábitos alimentares ou fatores a eles associados. Por
ser capaz de investigar os fatores que explicam as diferenças de incidência e os
diferenciais de risco e de identificar as regiões de maior risco, o estudo ecológico,
que tem como unidade de análise os dados populacionais ou os dados de um grupo
de indivíduos, é de extrema importância na saúde pública. O objetivo foi avaliar a
associação entre ingestão de nutrientes e a mortalidade por câncer geral e
específica no Brasil. A pesquisa ocorreu a partir de utilização de dados secundários
de livre acesso obtidos junto ao departamento de informática do Sistema Único de
Saúde do Brasil (DATASUS) e da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) 2008-
2009. Foram investigadas, para ambos os sexos e para as unidades federativas, as
mortalidades por neoplasias malignas; neoplasias malignas do estômago;
neoplasias malignas do pulmão; neoplasias malignas da mama e neoplasias
malignas de próstata. As variáveis de consumo alimentar estudadas foram consumo
de energia, de macronutrientes e de micronutrientes que foram ajustadas pelas
calorias ingeridas. Para preparo e análise dos dados foi utilizado o software
estatístico R 3.1.2. A associação entre a mortalidade por câncer e ingestão de
nutrientes foi verificada através do coeficiente de correlação de Spearman, com nível
de significância de 5%. Para a mortalidade geral por neoplasias malignas, observouse,
nas mulheres adultas, correlações positivas com a ingestão de açúcar total e
folato e, nas mulheres idosas, associações positivas em relação ao consumo de
açúcar total, folato e de ácidos graxos trans total. Já nos idosos do sexo masculino,
verificou-se associação positiva para o consumo de folato. Na população adulta, a
mortalidade por neoplasias de estômago sofre influência do consumo de energia,
cálcio, fósforo, selênio, retinol, vitamina D, tiamina e niacina, através de associações
positivas. Apenas para as mulheres adultas, encontra-se correlações positivas com
a ingestão de carboidratos e fibra alimentar e somente para os homens, piridoxina e
cobalamina mostram uma associação positiva e o manganês, negativa. Quanto aos
homens idosos, apenas a ingestão de manganês foi correlacionada negativamente
com a mortalidade por neoplasia de estômago. Na população adulta, constatou-se
apenas associação positiva entre a ingestão de cobalamina e a mortalidade por
câncer de mama em mulheres, enquanto que o consumo de manganês e de folato
apresentaram correlações negativas. Na população idosa feminina, observou-se
correlação negativa entre a ingestão de manganês e essa mortalidade. Para a
mortalidade por câncer de pulmão, a ingestão de açúcar total apresentou correlação
positiva nos adultos de ambos os sexos e nos idosos do sexo masculino. Portanto,
por se tratar de um estudo ecológico e exploratório, outros estudos são necessários
para confirmar as hipóteses encontradas em relação a ingestão de nutrientes e
mortalidade por câncer geral e específica na população brasileira segundo sexo e
faixa etária, de forma que a interpretação do presente estudo deve ser cautelosa.
Palavras-chave: câncer; estudo ecológico; ingestão de nutrientes; mortalidade.