RESUMO
O trabalho analisa a sociabilidade no Assentamento Rural de Santana e os processos de
aprendizagem objetivados pela prática social cotidiana dos trabalhadores rurais nos processos
de luta, de conquista e de permanência na terra entre 1987 a 2005. O Santana, fundado a partir
da política de reforma agrária do INCRA, está situado no Município de Monsenhor Tabosa no
Sertão do Ceará, Nordeste brasileiro. No Assentamento os trabalhadores rurais tecem uma
maneira peculiar de organização da produção e da vida cotidiana. A pergunta de partida a qual
este trabalho se propõe: o que é viver em um assentamento rural, que mantém a propriedade
coletiva da terra e uma produção organizada a partir do trabalho coletivo e individual? Quais
os seus desdobramentos para a formação dos assentados? O percurso teórico e metodológico
se fundamentou na ontologia do ser social a partir de Marx, Lukács e Mészáros. A pesquisa
de campo, objetivando um estudo de caso, realizou-se dentro de uma abordagem
antropológica marxiana priorizando a totalidade representada pela sociabilidade do
Assentamento. O Santana se estruturou basicamente sob dois momentos históricos. No
primeiro momento, a sociabilidade do Assentamento tinha como base duas mediações
centrais: propriedade coletiva da terra e produção cooperada que, para a implementação do
projeto coletivo, foram combinadas a relações de controle coletivo, necessárias à construção
do Assentamento. A sua sociabilidade estava demarcada por vínculos de solidariedade e
dependência entre os assentados, pois “tudo era decidido coletivamente”, como costumavam
afirmar. A prática social cotidiana dos assentados engendrava um rico aprendizado demarcado
pela produção associada, pelas reuniões e Assembléias permanentes, dentre outros. Porém
este projeto não teve sustentação, pois as condições de carências materiais, dificuldades de
ordem prática nas relações de produção coletiva e no estabelecimento de relações estáveis
com o mercado forma impedindo a sua continuidade. No segundo momento o Assentamento,
embora mantivesse a propriedade coletiva da terra, sofreu uma mudança nas relações de
produção coletiva para uma produção mista. A partir de então, estabeleceu-se uma
combinação de produção individual (de responsabilidade exclusiva do assentado) e de
produção coletiva (mantida pela Cooperativa de assentados), uma alternativa posta a partir das
demandas internas (de ampliação da capacidade de trabalho e de consumo), e externas (da
inserção na lógica de uma economia de mercado). Dos fatores externos que influenciaram a
mudança do projeto de Assentamento, destaca-se a política do Estado através do Programa
Nacional de Agricultura Familiar (PRONAF) e das relações de aproximação de alguns
assentados com a elite política da região. O trabalho, finalmente, afirma que o que é original
na sociabilidade de Santana são as mediações necessárias à manutenção do projeto de
Assentamento, que representam germes de relações sociais superiores, e que diferem em certa
medida da reprodução da sociabilidade burguesa. Embora tenha constatado os limites
históricos da sociabilidade em Santana seja um fato, esta prática social definitivamente trás
elementos que contribuem para o processo de transição para uma sociedade emancipada, para
além do capital.
Palavras-Chave: Sociabilidade; Terra e Trabalho; Assentamento Rural; Questão Agrária;
Ontologia do Ser Social; Trabalho e Educação; e Reforma Agrária.