RESUMO
A pesquisa As vozes do morro: heteroglossia e carnavalização na construção da
identidade negra nos sambas-enredo do Carnaval carioca é uma reflexão, a partir do
dialogismo bakthiniano (heteroglossia e carnavalização) e do conceito de inventividade
de Michel de Certeau, sobre as ideologias que reforçam o processo de afirmação da
identidade negra do grupo social sambistas. Utilizando-se de métodos de identificação e
análise dos recursos (trans)linguísticos empregados na produção dos sambas-enredo das
escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro, foi-nos possível entender como
construções verbo-melódicas (COSTA, 2012), integrantes de um espetáculo maior,
possuem o poder não só de dar visibilidade às histórias que compõem os enredos, bem
como aos sujeitos integrantes do mundo do samba e a suas ideologias a partir de suas
práticas discursivas. Ao longo do nosso estudo, procuramos analisar o discurso do
grupo social sambistas a partir do dialogismo bakthiniano, de características
heteroglóssicas e carnavalizadoras, destacando os elementos (trans)linguísticos que
expressam e reforçam suas identidades e ideologias afrodescendentes, de pertencimento
comunitário, de posição social e da inventividade contidas nas composições dos
sambas-enredo das escolas de samba do grupo especial do carnaval carioca, ao longo
dos anos de 1984 a 2014. Concluímos que, ao descrever e analisar os recursos
(trans)linguísticos do samba-enredo, pelos resultados a que chegamos, contribuímos
para a compreensão de mecanismos discursivos – a heteroglossia dialogizada e a
carnavalização, presentes nas discussões do círculo de Bakhtin – que atuam na
organização do texto carnavalesco, mostrando também que o samba-enredo é corpus
adequado para se observarem recursos linguísticos em plena atividade sem quaisquer
preconceitos.
Palavras-chave: Dialogismo. Heteroglossia. Carnavalização. Samba-enredo.