RESUMO
O uso de substâncias psicoativas perpassa as civilizações humanas desde os primórdios e
perdura até os dias atuais, contudo ao longo da história as percepções das relações que o ser
humano desenvolveu como essas substâncias psicoativas sofreram alterações, à medida que
foram sendo influenciadas por questões sócio-histórico-culturais. Com o uso desorganizado,
característico da contemporaneidade, começa a ocorrer alterações nas estruturas de vida do
usuário, assim, inicia-se uma trajetória de busca por cuidado.Assim, objetivou-se
compreender o itinerário terapêutico dos adolescentes com problemas relacionados ao uso do
crack a partir das redes sociais de apoio formais e informais. Trata-se uma pesquisa
qualitativa, na qual participaram 25 adolescentes usuários de crack e outras drogas que
estavam inseridos em instituições como SOPAI, comunidade terapêutica, unidade de
acolhimento, albergue e abrigo. Utilizou-se a técnica da entrevista semiestruturada. A análise
do material empírico baseou-se na hermenêutica de Paul Ricouer. Foram respeitadas as
questões éticas conforme a Resolução 466/2012, bem como contou a aprovação do Comitê de
Ética em Pesquisa da UECE sob o nº 634.127. Assim, a trajetória terapêutica tem início por
meio da ajuda familiar, porém esta às vezes não é suficiente, e com isso o seu desenrolar darse
juntamente a partir do acesso aos serviços como CAPS, CPDrogas, CRD, Conselho
Tutelar, Albergue, Hospital Mental de Messejana (HMM) e ainda por meio de intervenção do
Poder Judiciário. Este último, por sua vez, realiza articulações principalmente para
encaminhamentos para abrigos, comunidades terapêuticas, além de tratamento compulsório,
tanto em hospitais como nos serviços substitutivos de referência, além das questões
infracionais, como roubos, furtos e tráfico de drogas. Assim, pode-se perceber que, durante a
construção de suas trajetórias terapêuticas, os adolescentes procuram ajuda em diversas
instituições que fazem parte das arenas popular, profissional e folk. No entanto, possuem
diferentes representações para os adolescentes a depender de como são desenvolvidas as
estratégias de cuidado. Assim, destaca-se a família como sendo a rede social primária, na qual
os membros familiares são a quem inicialmente o adolescente recorre. Além dessa, são as
instituições secundárias formais (CAPS, SOPAI e Hospital Mental) e informais, igrejas e
benzedeiras, bem como, de terceiro setor como a unidade de acolhimento e o abrigo que são
parcerias do poder público com uma ONG, assim como a comunidade terapêutica. Assim,
percebe-se o desenvolvimento de um movimento de contrarreforma psiquiátrica, uma vez que
a principal alternativa terapêutica é a internação.
Palavras – chave: Cocaína/Crack; Adolescente; Itinerário terapêutico.