RESUMO
Este trabalho tem como objetivo analisar os determinantes históricos, econômicos e
políticos constituintes da condição permanente do servir e o modo como esse
fenômeno se expressa nas relações que perpassam o trabalho reprodutivo gratuito e
o remunerado. Para tanto, partimos da observação do cotidiano de seis mulheres
trabalhadoras diaristas, residentes na cidade de Fortaleza-Ceará. Estas assumem
integralmente as atividades domésticas de suas famílias no papel de donas de casa,
ao mesmo tempo em que administram demandas domésticas em outras residências
na condição de diaristas. Nesta aproximação, notamos que as relações que se
estabelecem em torno do trabalho reprodutivo são perpassadas por relações servis,
contribuindo para manter essas mulheres em condição de permanente servidão,
subjugadas e inferiorizadas no espaço privado doméstico pelos diferentes sujeitos
com os quais convivem, em especial por seus companheiros e suas patroas. Para
apreender esse fenômeno, que denominamos de condição permanente do servir,
assim como suas expressões na dinâmica do trabalho reprodutivo, desenvolvemos
uma pesquisa de natureza qualitativa, de tipo bibliográfico, documental e de campo,
a fim de identificar as contradições, as relações de poder e as estratégias de
resistência que as interlocutoras constituem em seus cotidianos a partir de suas
vivências objetivas. Usamos como principais técnicas de pesquisa, a saturação de
dados, a observação não participante e a entrevista semiestruturada. O corpus desta
pesquisa é composto pelos dados oriundos das transcrições das entrevistas e dos
registros em diário de campo. Para a análise dos dados referidos, referenciamo-nos
nas seguintes categorias: trabalho reprodutivo, família e interseccionalidade. Desse
modo, apreendemos a condição permanente do servir como um fenômeno que não
se restringe às relações interpessoais, ou ao campo das subjetividades. Ele se
manifesta nas relações sociais a partir de condições materiais históricas e se
expressa nas relações entre os sujeitos sociais a partir da hierarquização e da
subjugação de aspectos de raça/cor, de classe e de gênero, a exemplo das relações
tecidas em torno do trabalho reprodutivo, descritas pelas interlocutoras dessa
pesquisa.
Palavras-chave: Trabalho reprodutivo. Servidão. Família. Interseccionalidade.