RESUMO
A morte sempre foi um tema tabu. Ainda mais quando tratamos de trabalhadores
que lidam cotidianamente com o cadáver. É o caso dos auxiliares de necropsia da
Perícia Forense do Estado do Ceará – PEFOCE. Somado aos fatores físicos de
desgaste, lidar com cadáveres também pode ser fator contribuinte para que a saúde
destes trabalhadores possa ser influenciada negativamente. Infelizmente, estudos
sobre a saúde do trabalhador em diversas classes profissionais são escassos,
especialmente quando os profissionais são trabalhadores que lidam com o que
conceitualmente costuma-se descrever como “trabalho sujo”. Desta forma, este
estudo visou conhecer as percepções de auxiliares de necropsia da PEFOCE sobre
a morte e o morrer, bem como analisar as implicações que o trabalho com
cadáveres resulta na saúde destes trabalhadores. Com isso, abrimos um novo
panorama mostrando o trabalho de uma classe profissional pouco conhecida
cientificamente. Para tanto, o estudo se enquadrou como sendo uma pesquisa
qualitativa, de caráter exploratório. Para a coleta de dados, fizemos entrevistas com
roteiros semi-estruturados. A análise dos dados coletados foi feita a partir da Análise
de Conteúdo de Bardin, pelo qual nos possibilitou formular categorias a partir dos
enunciados das entrevistas. Como resultados, elencamos 11 categorias temáticas:
1. Dados pessoais e Socioeconômicos; 2. Condições de Trabalho; 3. Organização
do trabalho – Um dia normal no necrotério; 4. Definições (4.1. Morte e pós-Morte;
4.2. Deus; 4.3. Suas Escolhas – Morte e o Corpo); 5. Tanatomnese – Histórias de
morte; 6. Diferenças quanto ao sexo/idade/causa da morte; 7. Como é ter que lidar
com o cadáver?; 8. Escolha profissional; 9. Vida fora do trabalho (9.1. Relato de um
dia comum fora do trabalho, 9.2. Trabalho com cadáveres e a percepção da
sociedade e da família); 10. Reconhecimento profissional ou desvalorização?; 11.
Desafios e Perspectivas (11.1. Dificuldades enfrentadas, 11.2. Sugestões de
melhorias, 11.3. Elogios). Podemos verificar que o auxiliar de perícia possui uma
carga bastante onerosa, não necessariamente falando somente quanto ao trabalho
físico, mas muito em relação ao psicológico. Em relação a vida fora do trabalho, os
profissionais mostraram-se bastante introvertidos quanto ao seu lazer , optando
sempre por ficar em casa, com a família. Dentro de casa, a necessidade de falar
sobre o emprego, sobre o dia cansativo é dito, mas por alguns familiares não lidarem
bem com a questão da morte, esta necessidade de falar acaba por não ser
contemplada. Dentre as dificuldades vivenciadas, temos a falta de EPIs e outros
equipamentos de qualidade, baixa remuneração, carga exaustiva tanto física quanto
psíquica, além da falta de reconhecimento profissional. Notamos uma carência
grande quanto ao olhar da sociedade e do Estado para esta classe profissional
bastante negligenciada. Este estudo ajuda a expor um pouco mais do universo
fechado que é o trabalho dentro de um dos melhores Institutos de Perícia do Brasil
estruturalmente falando. Abre, pois a oportunidade de estudos complementares
serem formados para entendermos mais este panorama e consequentemente
fazermos da Saúde do Trabalhador da PEFOCE melhor e com mais qualidade.
Palavras-chave: Trabalho; Tanatologia; Morte; Auxiliares; Perícia; Percepções.