RESUMO
Embora a política preconize um cuidado integral a pacientes com câncer,
através da rede oncológica, sabe-se que rede de saúde é uma construção que
se dá na composição macro e micropolítica do cuidado. Acerca das
peculiaridades da mulher com câncer de mama e colo uterino, se fez
imprescindível nesse estudo problematizá-las mediante a discussão da
construção social dos corpos e a superação das estruturas de poder, sujeição,
repressão e dominação através da perspectiva do Devir – Mulher como
possibilidade de transformação e criação de novos modos de existência. Dessa
forma, o objetivo geral foi analisar as linhas de composição das experiências
macro e micropolíticas que compreendem a produção de vida e de redes de
cuidado de mulheres com câncer.Foi possível narrar as produções de vida e de
cuidado de duas usuárias-guia; mapear suas redes de cuidados; investigar a
produção do devir – mulher na micropolítica das redes em saúde e
problematizar a ética do cuidado e suas conexões com possibilidades de
subjetivações e transformações da vida de mulheres com câncer. Realizou-se
uma pesquisa qualitativa, em São Luís/Ma, de orientação cartográfia, onde
utilizou-se em campo a construção de oficinas com gestores e profissionais de
saúde, produções de encontros e conversações, confecção de diário de campo
e a construção de fluxograma analisador das redes de cuidado. Faz parte de
uma pesquisa maior intitulada por “Observatório Nacional da produção de
cuidado em diferentes modalidades à luz do processo de implantação das
Redes Temáticas de Atenção à Saúde no Sistema Único de Saúde: avalia
quem pede, quem faz e quem usa”, com parecer: 560.597 de 23/03/2014, pela
UFRJ. A pesquisa acompanhou, primeiramente, Luíza, uma mulher de 58 anos,
em tratamento de câncer do colo uterino há 5 anos. Desenhou-se uma rede
vulnerável, fragmentada e centralizada no cuidado biomédico, tendo por um
lado, um hospital que acolhe demandas da doença e, por outro, uma atenção
primária que abandona em prevenção e promoção de saúde. Em síntese, um
modelo de cuidado que captura e aprisiona o desdobrar de devires de vida,
mantendo o modo de cuidado biomédico e clínico, centrado na doença.
Destaca-se como potência as redes ligadas à religiosidade e ao apoio familiar.
Para luiza, ter câncer mudou sua vida, sendo necessário fazer conexões para
além da terapêutica biomédica. A outra usuária – guia foi Maria, 32 anos, em
tratamento de câncer de mama. Após o diagnóstico, passou a ter tratamento
em um hospital oncológico, onde narra o estabelecimento de vínculo, de
resgate da autonomia e de corresponsabilização do cuidado juntamente à
equipe de profissionais. Os afectos gerados nos encontros entre Maria e seus
cuidadores no serviço oncológico foram produzindo novas formas de ser Maria,
possibilitando novos devires, cuidando da saúde de forma integral. Conclui-se
com reflexões acerca dos desafios para a construção de redes de cuidado
pautadas na ética do cuidado, pois a experiência oncológica atravessa o corpo
em múltiplas dimensões, sejam físicas, sociais, econômicas, subjetivas e
existenciais. Ressalta-se a necessidade de um cuidado que perceba e
possibilite transformações e novas subjetivações às mulheres em cuidado
oncológico.
Palavras-chave: Devir-mulher. Micropolítica do cuidado. Rede oncológica.