RESUMO
A heterogeneidade da epidemia de aids nos mais diversos contextos socioeconômicos
e demográficos destaca a importância de uma abordagem sobre os determinantes
sociais da doença em populações que vivem em territórios específicos. Objetivou-se
analisar a distribuição espacial e temporal dos casos e óbitos por aids no Piauí e a
sua relação com Determinantes Sociais da Saúde (DSS). Trata-se de estudo
ecológico, com enfoque na análise espacial, em que foram considerados todos os
casos novos e óbitos por aids em indivíduos residentes no Piauí notificados no período
2007-2015. Utilizaram-se variáveis sociodemográficas obtidas na Secretaria de Saúde
do Piauí e dados socioeconômicos do IBGE e DATASUS. Em seguida, construíramse indicadores que se adequaram às camadas do modelo de determinação social da
saúde de Whitehead e Dahlgren. Na análise bivariada utilizaram-se os testes quiquadrado e razão de chances. A análise de aglomerados espaciais se deu por meio
das estatístiscas de Moran, bayesiana e método Scan. O modelo de regressão
Geographically Weighted Regression (GWR) foi usado para identificar as variáveis
socioeconômicas (DSS) que influenciam as taxas de incidência e mortalidade por aids
nos municípios piauienses. Foram consideradas estatisticamente significantes
análises cujo p<0,05. Houve aumento do número de casos no período 2007-2013,
contudo, a partir de 2014 verificou-se diminuição da incidência. Já a mortalidade por
aids apresentou, em geral, tendência de crescimento ao longo do tempo. A maioria
dos casos e óbitos ocorreu no sexo masculino, raça parda, de 30 a 39 anos. Os
indivíduos homossexuais e bissexuais são predominantemente homens e jovens. A
maioria dos óbitos tinha baixa escolaridade, em contrapartida, os casos da doença
ocorreram predominantemente entre indivíduos mais instruídos. Identificaram-se
clusters de casos e óbitos em Picos e em municípios próximos a Teresina.
Aglomerados de casos ainda foram identificados em São João do Arraial e Morro do
Chapéu. Aglomerados de óbitos foram observados ao longo da bacia hidrográfica do
Médio Parnaíba e em municípios no entorno de Luzilândia. Cidades próximas ao litoral
não apresentaram autocorrelação espacial significante. Os DSS associados às taxas
de incidência e mortalidade por aids no Piauí foram: média de moradores por
domicílio; proporção de pessoas em domicílios vulneráveis à pobreza e em que
ninguém tem ensino fundamental completo; percentual de pessoas em domicílios
vulneráveis à pobreza e dependente de idosos; percentual de pessoas em domicílios com paredes inadequadas; proporção de domicílios com rede de abastecimento de
água. Os DSS que influenciam somente a taxa de incidência foram: taxa de
desemprego; razão de renda; proporção de domicílios sem energia elétrica. Os DSS
associados somente à mortalidade foram: taxa de analfabetismo no sexo masculino;
taxa de abandono escolar precoce; proporção de moradias adequadas; proporção de
domicílios sem esgotamento sanitário; proporção de domicílios próprios. O modelo
GWR se mostrou eficaz na identificação de determinantes sociais da incidência e
mortalidade por aids no Piauí. Assim, espera-se que intervenções estruturais se fixem
como métodos eficientes de prevenção da infecção pelo HIV, do adoecimento e da
mortalidade por aids no estado, além das já conhecidas intervenções programáticas
típicas do setor saúde.
Palavras-chave: HIV. Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. Determinação Social
da Saúde. Análise espacial.