RESUMO
Em 2013, foi criado pelo Governo Federal o Programa Mais Médicos (PMM), que faz
parte de um acordo de melhoria do atendimento aos usuários do SUS. O Programa
prevê uma série de medidas para combater as desigualdades de acesso à Atenção
Primária (APS). Esta pesquisa é fruto de um recorte do Projeto intitulado “Estudo da
Sociabilidade de Médicos do Programa Mais Médicos nas Unidades Básicas de Saúde
do Ceará: inserção, atuação e conflitos”, cujo objetivo foi analisar o Programa Mais
Médicos sob a perspectiva da organização e das condições de trabalho e do processo de
sociabilidade intra e extra-ambiente de trabalho dos sujeitos “migrantes” (brasileiros e
estrangeiros). Neste estudo, investigamos as repercussões do eixo de provimento de
médicos, o Projeto Mais Médicos para o Brasil (PMMB), na Atenção Primária à Saúde,
notadamente na Estratégia Saúde da Família, em que os profissionais foram alocados no
município de Fortaleza, Estado do Ceará. A metodologia utilizada é de natureza
quantitativa e qualitativa, tendo como procedimentos: observação direta das unidades de
atenção primária à saúde, aplicação de questionários com médicos do PMMB (44),
realização de entrevistas com médicos (18) e usuários (12) das unidades de saúde
demandantes do Programa. A análise dos dados quantitativos foi realizada por meio do
software SPSS, e os dados qualitativos foram analisados a partir da análise do conteúdo
na perspectiva de Bardin. Os resultados do estudo indicam dois perfis de médicos no
Programa: 1. Brasileiros, faixa etária entre 26 a 30 anos, menos de 10 anos de formados
e que ingressaram no PMMB, principalmente para obtenção dos 10% na prova de
residência; 2. Estrangeiros, faixa etária entre 41 a 50 anos, mais de 10 anos de formado
e ingresso no Programa pela participação nas “missões internacionais cubanas”, em que
atuam nos serviços básicos de saúde. Os médicos, de uma maneira geral, avaliaram
positivamente o ambiente de trabalho e o relacionamento entre os demais profissionais,
fazendo referências a conflitos pontuais com pacientes e gestão. As dificuldades
preponderantes na rotina laboral foram a “alta demanda de pacientes”, falta de insumos
e dificuldades com os demais níveis da rede de atenção à saúde (encaminhamentos e
exames). Os médicos estrangeiros são festejados pelos usuários que identificaram
mudanças no atendimento médico a partir do PMM. Os usuários apontaram diferenças
positivas não só no aumento de médicos, mas no modus operandi do atendimento dos
médicos estrangeiros, muitas vezes em comparação aos médicos brasileiros, ressaltando
o olhar, o ouvir e o tocar diferenciados desses profissionais. Assim, percebemos que a
cultura da prevenção e da humanização médica, comum aos cubanos, tem feito a
diferença no atendimento e satisfação do usuário. Concluímos que o PMMB
proporcionou um aumento quantitativo e qualitativo de médicos no município de
Fortaleza, com profissionais cuja formação e experiência foram na área de saúde da
família e comunidade. O Programa garantiu acesso e cobertura na APS, por meio do
atendimento integral e humanizado e, como consequência, ganhou a aprovação da
população, dos gestores e da equipe de saúde. Portanto, tem muito a contribuir para a
consolidação da Estratégia Saúde da Família e o fortalecimento da Atenção Primária à
Saúde.
Palavras-chave: Atenção Primária à Saúde. Médico. Programa Mais Médicos (PMM).
Projeto Mais Médicos para o Brasil (PMMB).