Patológicos e delinquentes: as estratégias de controle social da loucura em Teresina (1870-1930)
Autor(es):
Lopes, Felipe da Cunha
Palavras Chaves:
Não informado
Ano de Publicação:
2011
Resumo:
A presente pesquisa tem por objetivo principal analisar as estratégias forjadas em
Teresina entre 1870 e 1930, no sentido de promover algumas ações de controle da
loucura. Tais estratégias foram responsáveis, ao mesmo tempo, pela criminalização e
patologização dos sujeitos considerados loucos. Assim, analisamos os discursos ligados
à psiquiatria e à psicologia numa tentativa de identificar como os poderes e saberes
atuaram sobre os sujeitos que possuíam uma moralidade dita anômala. Esses discursos
se repetiram ao longo do período pesquisado e ajudaram a cristalizar a idéia de que a
loucura e a criminalidade eram distúrbios que compartilhavam de uma mesma moralidade
desviante. Nesse sentido, percebemos nos discursos a tentativa de explicar quanto de
loucura cabia ao criminoso e o quanto de criminalidade caberia à loucura chegando-se
mesmo a elaborar uma ―etiologia‖ da criminalidade baseada na etiologia da loucura.
Desse modo, pretendemos estabelecer alguns níveis de compreensão acerca do
processo de modernização de Teresina, em que havia uma preocupação com a
ocupação dos espaços e com o comportamento dos indivíduos urbanos. Portanto,
aqueles indivíduos que não se adequassem as novas maneiras de viver na cidade
estavam sujeitos ao encarceramento entre outras sanções jurídicas e policias.
Percebemos uma série de estratégias voltadas para uma prática policial que
criminalizava os comportamentos de determinados setores da população urbana que
afetava de forma significativa as camadas mais pobres e aqueles indivíduos sem
ocupação definida, no âmbito dos quais se encontravam os loucos. Assim, inicialmente, a
loucura era encarada basicamente como um distúrbio da ordem pública e não
necessariamente como uma doença mental. Somente por volta da década de 1870 as
estratégias que visavam implantar este projeto de modernização dos costumes passaram
por um processo de especialização que, em parte, foi responsável por reivindicar um
espaço medicalizado para o tratamento da loucura. Por outro lado, neste percurso surgiu
um discurso que definia os detentos da Cadeia Pública como doentes sociais e, ao
mesmo tempo, também, os sujeitos considerados loucos passaram a ser caracterizados
como doentes mentais em função das suas incapacidades em realizarem ―uma
sociabilidade sadia‖. Por fim, analisamos o contexto de criação do Asilo Areolino de
Abreu e a maneira como funcionou no período estudado, procurando entender a
ambigüidade dessa instituição que ao mesmo tempo em que se apresentava como um
espaço de cura, também era caracterizado como uma ―masmorra‖.
Palavras-chave: Estratégia. Controle social. Loucura. Psiquiatria. Polícia.
Abstract:
This research project examines the strategies developed for implementing mechanisms of
social control in the City of Teresina, between 1870 and 1930. A specific aspect of these
strategies laid the basis for developing simultaneously social pathologies and the
criminalization of mental illness. This study draws on the discourse of psychiatrists and
psychologists to understand how the actions of intellectual and public authorities defined
the lives of those considered ―abnormal‖. The dominant discourse argued that both
mental illness and criminality were disturbances that drew on the same misconstrued
concept of morality. In the public discourse both mental illness and criminal behavior
shared in the same etiology, so much so, the etiology of mental illness served as the
foundation for the development of the etiology criminality. These strategies emerged
within a broader process of modernization underway in the City of Teresina, underscored
by the growing concern of city officials with the occupation of public spaces and the
behavior of the urban population. In this sense, those that did not comply with the
conceived notion of urban life were subject to police action and judicial intervention.
Among the strategies imposed by the criminal justice system figures the criminalization of
the urban poor and unemployed, among which were large numbers of the mentally ill. In
this context many of the mentally ill were incarcerated for ―disturbing the peace‖ and not
for being mentally ill. During the decade of 1870s public authorities began to make strong
distinctions between mental illness and criminal behavior, which would lead to the creation
of specialized units for the treatment of the mentally ill. Public discourse, however,
continued to identify those incarcerated in the city jail as ―socially ill‖ and those with
psychological disturbances as ―mentally ill‖ since both were incapable of developing a
―healthy sociability‖. It was in this context that the Asylum for the Alienated Areolino de
Abreu was inaugurated, representing both an institution of cure for the mentally ill as well
as their incarceration.
Key Words: Strategy, Social Control, Mental Illness, Psychiatry, Police.
Tipo do Trabalho:
Dissertação
Referência:
Lopes, Felipe da Cunha. Patológicos e delinquentes: as estratégias de controle social da loucura em Teresina (1870-1930). 2011. 173 f. Dissertação (Mestrado Acadêmico ou Profissional em 2011) - Universidade Estadual do Ceará, , 2011. Disponível em: Acesso em: 4 de maio de 2024
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