Nesta pesquisa, a partir da comparação entre exemplares do gênero artigo acadêmico
experimental, investigamos de que modo membros experientes das áreas disciplinares de
Linguística e de Medicina organizam sociorretoricamente seus textos, observando em que
medida as especificidades de cada área interferem nesse processo. Como objetivo principal,
com base na hipótese de que campos disciplinares distintos constroem diferentemente gêneros
acadêmicos, evidenciando em seus textos caracterização sociorretórica peculiar, pesquisamos
como diferentes culturas disciplinares (HYLAND, 2000, 2009) influenciam na elaboração de
artigos experimentais. Como objetivos específicos, descrevemos as culturas disciplinares das
áreas de Linguística e de Medicina, relacionando-as com a prática e o consumo de artigos
experimentais; relacionamos os propósitos comunicativos do gênero artigo experimental às
culturas disciplinares, considerando a compreensão dos pesquisadores das áreas investigadas;
descrevemos a organização retórica do artigo, considerando seus propósitos comunicativos e
as culturas em que estão situados, e analisamos, comparativamente, as descrições
sociorretóricas das referidas áreas disciplinares. Como norte teórico, utilizamos a proposta
teórico-metodológica de Swales (1990, 1992, 1998, 2004) acerca de comunidades discursivas
e de gêneros textuais, as apreciações de Hyland (2000, 2009) sobre culturas disciplinares, as
contribuições de Motta-Roth e Hendges (2010) a respeito do artigo experimental e as
propostas de descrição retórica de Swales (1990) (modelo CARS – Create a Research Space),
de Motta-Roth e Hendges (2010), de Oliveira (2002, 2003), de Yang e Allison (2003) e de
Nwogu (1997) para análise das unidades retóricas, dos movimentos e dos passos que
compõem o gênero em destaque. Compusemos o corpus com 20 exemplares de artigos
experimentais, sendo dez de cada área, selecionados de periódicos Qualis A e B e de anais de
congressos. Para o reconhecimento das unidades informacionais dos exemplares do gênero,
identificamos as pistas léxico-gramaticais, o conteúdo propriamente dito e a disposição de
blocos textuais, como títulos e parágrafos. Para a caracterização das culturas disciplinares das
áreas de Linguística e de Medicina, coletamos dados em relatórios de área da Capes, em
periódicos especializados e em respostas de pesquisadores obtidas por meio de um
questionário. Os resultados apontaram para a influência dos elementos inerentes às culturas
disciplinares na distribuição das informações nos textos, bem como revelaram descrições
sociorretóricas distintas para artigos das duas áreas, evidenciando que cada comunidade
acadêmico-científica possui convenções, normas, nomenclaturas, objetos de estudo e
metodologias particulares para a composição de seus gêneros.