Carregando ...
Visualização do Trabalho Acadêmico
Repositório Institucional - UECE
Título:
Agenciamentos de desejos nos territórios das práticas das agentes comunitários de saúde: cartografia das afecções

Autor(es):
Alencar, Olga Maria De

Palavras Chaves:
Cartografia; Agente Comunitário de Saúde; Saúde Coletiva; Política Pública; Corpo.

Ano de Publicação:
2022

Resumo:
Introdução: A presente tese é um agenciamento coletivo de desejo produzido durante nossa itinerância, enquanto trabalhadoras da saúde atuantes nos territórios da Atenção Básica à Saúde (ABS). Configura-se como um movimento de territorialidades entre nossas vivências no âmbito da assistência, da gestão e da formação em saúde, articulando saberes científicos e populares. No Brasil, a ABS tem como estratégia organizativa a integração das ações, fundamentada nos princípios do Sistema Único de Saúde, enfatizando-se o trabalho em equipe, a territorializacão e a corresponsabilidade sanitária. O trabalho nos serviços da ABS é considerado de grande complexidade, em que atuam diversas categorias profissionais, de forma a desenvolver um trabalho colaborativo e coletivo, tendo a Agente Comunitário de Saúde (ACS) como fundamental, uma vez que atuam como membro da Equipe de Saúde da Família (ESF), em posição singular, por exercer a função comunicativa entre o saber científico e o popular. Motivadas por infinitas inquietações em nossa prática clínica nasce, com efeito, o desejo de produzir conhecimento sobre a profissão Agente Comunitário de Saúde, dada sua presença em nossa história pessoal e profissional, bem como sua relevância social para o fortalecimento da ABS. A profissão ACS foi criada exclusivamente para atuação nos territórios de prática da Atenção ABS e vem, ao longo de sua historicidade, consolidando-se como agentes sociais de grande relevância para o trabalho na saúde. A relevância deste estudo pauta-se, também, devido ao fato de as ACS serem uma das profissões mais recentes e por ter representação significativa no quantitativo dos trabalhadores de saúde, expressando, na atualidade, a maior categoria de trabalhadores do Sistema Único de Saúde. Esta pesquisa tem como suporte as concepções filosóficas, teóricas-metodológicas de autores que dialogam sobre cartografia, micropolítica, o trabalho vivo em ato. Objetivo: cartografar a produção política e sócio-histórica das práticas das ACS. Método: Trata-se de estudo com abordagem qualitativa e se insere na pesquisa-intervenção, que pretende cartografar as singularidades da realidade, da produção no mundo vivo das ACS com sentidos, significados, sonhos, desejos e atitudes, em constante processo de singularização. A cartografia propõe uma reversão metodológica, costumeiro dos métodos tradicionais, que traça um caminho bem definido para alcançar objetivos pré-fixados (meta-hódos). Para produção dos dados, utilizamos uma mistura de métodos e técnicas. O cenário da pesquisa foi composto pelos municípios de Aiuaba e Tauá da região dos Inhamuns, que compõem a 14ª Regional de Saúde do Ceará. Participaram da pesquisa 80 ACS, sendo 77 mulheres e três do sexo masculino. Os dados foram organizados em narrativas e, para desvelamento, usamos a análise rizomática. Rizoma entendido como um sistema aberto de conexão que transita no meio social, através de agenciamentos diversos. Resultados: Os efeitos da pesquisa estão apresentados em platôs, que juntos compõem o rizoma, não são hierárquicos e foram aparecendo nos encontros em movimentos em espiral. No platô 1- Assim começa o percurso vida de ACS: veredas, atalhos, pontes e infinitas possibilidades na construção da profissão, é composto por quatro linhas, que versa sobre os desafios para ingressar no mundo do trabalho ACS; (2) Aspioneiras, Asantigas, Asnovatas e AsNovinhas: existências e reexistências no devir-ACS; (3) “Quem um dia foi ACS, nunca deixa de ser”: com a palavra AsAposentadas e AsDissidentes; e (4) Formação técnica e educação permanente: aprendizagens em ato e o plano da experiência. A temporalidade cronológica foi marcada pelas ACS, mediante a criação de uma categorização: ASPIONEIRAS (que ingressaram no programa entre 1989 e 1990); ASANTIGAS que ingressaram no trabalho entre 1991 e 2011; as NOVATAS (ingressaram no programa entre 2012 e 2017); ASNOVINHAS (que ingressaram no programa depois de 2017); ASAPOSENTADAS (aposentada como ACS); e ASDISSIDENTES (aquelas que saíram do programa ou estão em desvio de função). O ingresso das ACS no programa é visto como um acontecimento nas comunidades rurais e periferia das cidades, possibilitando o ingresso das mulheres no mundo do trabalho, marcado por muitas lutas, resistências e desafios, tanto pela crise social abalada pela grande seca, como pelo ingresso do modelo econômico implantado no fim da década de 1980. No segundo platô, trazemos a discussão sobre o que pode o corpo ACS, de onde emerge os corpos em devir: corpo-desejo, corpo-território, corpo-comunidade e corpo-força. Esses corpos são máquinas sociais em constante experimentação, um campo aberto povoado de intensidades, produtora de desejo com suas territorialidades: molares e moleculares. O corpo ponte surge como uma nova criação conceitual, com rachaduras e bifurcações, fazendo fugir dos territórios normativos, capturante das potências criativas, que se figura como a superfície de registro-controle. O platô — Alegrias e tristezas no devir-ACS: o que dar potência e o que tira potência, é composto pelas linhas narrativas: (1) O cotidiano e suas imprevisibilidades: linhas molares e moleculares; (2) [...] “Eu vejo que temos que customizar nossas práticas” [...]: o instituído e o instituinte no fazer DasACS; (3) As tecnologias digitais como reinvenção do trabalho; (4) [...] “a gente repete tanto, que acaba fazendo diferente”[...]: mudanças no mundo do trabalho DasACS (hojeidades possíveis - misturas do ACS de antigamente e de hoje); (5) Valorização profissional e não reconhecimento social: o que temos a dizer; e (6) A enfermagem como potência da existencialidades ACS. O platô 4 foi um acontecimento da tese, versa sobre o atravessamento da pandemia da COVID-19, durante a coleta de dados e nossas reinvenções no campo da pesquisa, bem como nosso posicionamento ético e político frente ao caos. Conclusão: Os sujeitos da pesquisa enunciam grandes diferenças entre o início do programa e o momento atual. Percebemos nos discursos a criação de temporalidades cronológica entre ser pioneira e novata, produzindo rachaduras nas relações de poder no interior da profissão. O processo histórico da formação social da profissão ACS é marcado pelo modelo econômico neoliberal, assim como os marcadores sociais da diferença de gênero, raça e classe social são indutivos para o ingresso na profissão. Tornar-se ACS descortinou-se como uma linha de fuga para sair da domesticação e do assujeitamento social dos corpos femininos naturalizados pela dominação masculina. O trabalho vivo em ato das ACS é um agenciamento coletivo de desejo, que acontece no entremeio das profissões da saúde, com potencialidades para promoção da grande saúde, mediante as ações criativas e inventivas de promoção da saúde, educação em saúde e vigilância em saúde, mediatizado pelos saberes sociais circulantes. Palavras-chave: Cartografia. Agente Comunitário de Saúde. Saúde Coletiva. Política Pública. Corpo.

Abstract:
Introduction: This thesis is a collective agency of desire produced during our itinerancy, as health workers working in Primary Health Care (PHC) territories. It is configured as a movement of territorialities between our experiences in the scope of assistance, management and training in health, articulating scientific and popular knowledge. In Brazil, Primary Health Care has as its organizational strategy the integration of actions, based on the principles of the Unified Health System, emphasizing teamwork, territorialization and sanitary co-responsibility. The work in PHC services is considered to be of great complexity, in which different professional categories work, in order to develop collaborative and collective work, with the Community Health Agent (ACS) as fundamental, since they act as a member of the Family Health (ESF), in a unique position, for exercising the communicative function between scientific and popular knowledge. Motivated by infinite concerns in our clinical practice, the desire to produce knowledge about the Community Health Agent profession is born, given its presence in our personal and professional history, as well as its social relevance for the strengthening of PHC. The ACS profession was created exclusively to work in the territories of Primary Health Care practice and has, throughout its history, been consolidating itself as social agents of great relevance to health work. The relevance of this study is also based on the fact that the ACS is one of the most recent professions and for having a significant representation in the number of health workers, currently expressing the largest category of workers in the Unified Health System. This research is supported by the philosophical, theoretical-methodological conceptions of authors who talk about cartography, micropolitics, live work in action. Objective: to map the political and socio-historical production of ACS practices. Method: This is a study with a qualitative approach and is part of the intervention research, which intends to map the singularities of reality, of the production in the living world of ACS with senses, meanings, dreams, desires and attitudes, in a constant process of singularization. Cartography proposes a methodological reversal, customary to traditional methods, which traces a well-defined path to reach pre-set goals (meta-hodos). To produce the data, we used a mixture of methods and techniques. The research scenario was composed of the municipalities of Aiuaba and Tauá in the Inhamuns region, which make up the 14th Health Regional of Ceará. Eighty ACS participated in the research, 77 women and three men, distributed. Data were organized into narratives and, for unveiling, we used rhizomatic analysis. Rhizome understood as an open connection system that transits in the social environment, through different agencies. Results: The research effects are presented in plateaus, which together make up the rhizome, are not hierarchical and appear in the meetings in spiral movements. On the plateau 1- This is how the life path of ACS begins: paths, shortcuts, bridges and infinite possibilities in the construction of the profession, it is composed of four lines, which deals with the challenges to enter the world of work ACS; (2) Aspioneiras, Asantigas, Asnovatas and AsNovinhas: existences and reexistences in the becoming-ACS; (3) “Whoever was a CHW, never ceases to be”: with the word AsRetirees and AsDissidents; and (4) Technical training and continuing education: learning in action and the experience plan. The chronological temporality was marked by the ACS, through the creation of a categorization: ASPIONEIRAS (who joined the program between 1989 and 1990); ASANTIGAS who entered the job between 1991 and 2011; NEWS (joined the program between 2012 and 2017); ASNOVINHAS (who joined the program after 2017); RETIREES (retired as ACS); and ASDISSIDENTS (those who left the program or are in function deviation). The entry of ACS into the program is seen as an event in rural communities and the periphery of cities, enabling women to enter the world of work, marked by many struggles, resistances and challenges, both due to the social crisis shaken by the great drought, as well as the entry of the economic model implemented at the end of the 1980s. In the second plateau, we bring the discussion about what the ACS body can do, from where the bodies in becoming emerge: body-desire, body-territory, body-community and body-force. These bodies are social machines in constant experimentation, an open field populated with intensities, producing desire with its territorialities: molar and molecular. The bridge body appears as a new conceptual creation, with cracks and bifurcations, escaping from normative territories, capturing creative powers, which appears as the record-control surface. The plateau — Joys and sorrows in becoming-ACS: what provides potency and what takes potency, is composed of narrative lines: (1) Daily life and its unpredictability: molar and molecular lines; (2) [...] “I see that we have to customize our practices” [...]: the instituted and the instituting in doing DasACS; (3) Digital technologies as a reinvention of work; (4) [...] “we repeat so much, that we end up doing it differently” [...]: changes in the world of work DasACS (possible today - mixtures of ACS from the past and today); (5) Professional appreciation and non-social recognition: what we have to say; and (6) Nursing as a potentiality of ACS existentialities. Plateau 4 was an event of the thesis, which deals with the crossing of the COVID-19 pandemic, during data collection and our reinventions in the field of research, as well as our ethical and political positioning in the face of chaos. Conclusion: The research subjects mention great differences between the beginning of the program and the current moment. We noticed in the speeches the creation of chronological temporalities between being a pioneer and a novice, producing cracks in the power relations within the profession. The historical process of the social formation of the ACS profession is marked by the neoliberal economic model, as well as the social markers of gender, race and social class differences are inductive for entry into the profession. Becoming ACS was revealed as a line of flight to leave the domestication and social subjection of female bodies naturalized by male domination. The live work in action of the ACS is a collective agency that takes place in the midst of health professions, with potential for promoting great health, through creative and inventive actions of health promotion, health education and health surveillance, mediated by knowledge circulating socials. Keywords: Cartography. Community Health Agent. Collective Health. Public policy. Body.

Tipo do Trabalho:
Tese

Referência:
Alencar, Olga Maria De. Agenciamentos de desejos nos territórios das práticas das agentes comunitários de saúde: cartografia das afecções. 2022. 299 f. Tese (Doutorado em 2022) - Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2022. Disponível em: Acesso em: 14 de maio de 2024

Universidade Estadual do Ceará - UECE | Departamento de Tecnologia da Informação e Comunicação - DETIC
Política de Privacidade e Segurança
Build 1