Esta tese de doutorado se fundamenta nos arcabouços teórico-metodológicos da Análise
Crítica do Discurso idealizados por Norman Fairclough (1989; 1995; 2001; 2003), pondo em
destaque seus três tipos de significados textuais: acional, representacional e identificacional.
Tais categorias se apresentam como recursos úteis para o estudo das representações sociais de
LGBTQ no cinema underground. Uma vez que a vida social não pode ser experienciada fora
da práxis, a cinematografia é tida aqui como um modo de ação sobre o imaginário coletivo;
um evento discursivo que é simultaneamente texto, prática discursiva e prática social e que é
capaz de satisfazer a necessidade de auto-representação dos indivíduos historicamente
subalternizados ou colocados na invisibilidade. Nosso corpus é tratado como um processo de
exteriorização de um pensamento social crítico, uma tentativa de ruptura com as práticas
discriminatórias do dia a dia e com os silenciamentos institucionais, na busca pela mudança
social. Nosso trabalho de investigação tem em vista documentar, por meio da análise de
curtas-metragens, que a cinematografia queer é um mecanismo tecnológico de negociação de
saberes – uma fonte de onde se brota novas políticas identitárias e simbolismo de sexo/gênero
que trabalham a favor de visões de mundo e estilos de vida não-normativos. Isto é, os modos
pelos quais LGBTQ são apresentados por esse tipo de fazer cinematográfico que dão conta da
materialidade linguística e imagética de identidades subversivas em contextos de atuação. Em
nossa rede retórica e argumentativa, articulamos as questões de controle sobre a própria
representação, implicações identitárias e conteúdo social com o conhecimento científico sobre
elas. E, a partir do estudo crítico dos cenários ficcionais, chegamos às problemáticas do
cotidiano vivido e às ações sociais e políticas de reivindicação pelo direito a voz dos sujeitos
silenciados.